02/07/2022

O barato do verão

De acordo com o colorido cartaz afixado nas arcadas do prédio, é hoje o último dia do arraial do bairro. Alusivo em princípio aos Santos Populares, há de lá haver sardinhas, pão, chouriço e cerveja, mas acho-o atrasado. Dentro de casa consigo ouvir a música, porém não o suficiente para a identificar, o que não faz problema. Posso escolher levantar-me do sofá e ir ao lado nascente do apartamento fechar as janelas, cortando-lhes o verão. O barato do verão. Em vez de ficar aqui enrolada em mantas (dissemos verão?), estirada como se não fosse eu mesma, aninhada num sábado que desde a madrugada está sossegado oferecendo-me livros empilhados até uma hora destas, mesmo por sobre a música chegando do arraial. Em momentos assim, desencontrados de mim, meio aleatórios, quase cómicos, sinto-me feliz. Surpreendentemente feliz. 

Aditamento musical, vá-se lá saber porquê:

4 comentários:

  1. Avançou para a sardinha e o passo de dança ou permaneceu na mantinha e no livro? Às vezes sinto o mesmo, apetecem-me coisas antagónicas, muitos eus que moram dentro de nós...

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    1. Precisamente, CC. Mas desta vez não tive luta interna: fiquei no sofá, mesmo. :-)

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  2. Há um estudo, do qual me lembrei enquanto te lia, que diz que, no que à felicidade diz respeito, 50% é da responsabilidade da genética, apenas 10% aquilo das pessoas e as suas circunstâncias e 40% da responsabilidade daquilo que nos dá prazer, irmos sabendo o que é, e, a cada momento, seleccionarmos de entre todo o cardápio e solicitações aquilo que nos apetece mesmo, não importa o quê, cumprindo, se possível, a nossa verdade no que toca aos nossos prazeres pessoais, sejam eles quais forem. Estarias, pois então, atrevo-me a dizer, encontrada num momento de prazer muito teu e, portanto, não me admira nada esse estado de felicidade. Continuo em modo atrevimento e, assim, direi mais: Quem fez o estudo diria até "nada surpreendente"...
    E por livros empilhados e coisas que nos fazem felizes, apeteceu-me perguntar-te se já leste "O homem duplicado" de José Saramago? (ainda só vou na página 131, mas tem sido um prazer, estou a achar tão interessante)
    E, olá, querida Susana!

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    1. Não li "O homem duplicado", e até acho que o tenho em casa! Estava a preparar-me para ler em breve "Todos os nomes" (este não tenho ainda), mas agora fico a oscilar, ai que problema!! :-)
      Mas é, eu tenho a sorte de não precisar de coisas muito complexas para me sentir feliz. Talvez sejam esses 50% da genética que dão uma grande ajuda, quem sabe.
      Os livros, os livros. Sem eles é que a vida ficaria mesmo muito mais complicada, não é?
      E olá, querida Cláudia!

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