Há bocado, quando saí para a rua na busca de um ou dois víveres inesperadamente faltosos para o almoço, já não era cedo. Mesmo assim, tomei o cuidado de optar pelo casaco mais compridinho que tenho. Aquela conversa de há um ano, nos saldos de uma loja moderníssima situada nos centros comerciais mais palpitantes da atualidade, ainda não foi digerida pelo outono da minha idade. A elegante vendedora de maquiagem perfeita garantiu-me, com o olhar mais firme e profissional, que as calças que ela se me propunha vender, muito muito muito confortáveis e que parecem de pijama, não parecem de pijama. Disse ela ainda, toda inteligente, que “é preciso desconstruir” [a ideia de que as calças que parecem de pijama, parecem de pijama]. Ora eu fui mesmo atingida. Na mouche da minha fraqueza por saldos de lojas moderníssimas situadas nos centros comerciais mais palpitantes da atualidade, dispus-me imediatamente a desconstruir ideias doidas como aquela de calças muito muito muito confortáveis parecerem de pijama (senhores!). Portanto, valentemente a caminho do natal de dois mil e vinte e um como ali estávamos, comprei-as.
Hoje, passados doze meses, ainda me detenho com as calças na mão antes de me enfiar nelas, ponderando avisadamente se precisarei ou não de ir à rua levar as marotas a passear. Tipo não adoro que os meus vizinhos, os quais provavelmente não fizeram qualquer evolução no sentido da precisada desconstrução, me vejam de pijama.
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