Quem viu o jogo com amigos pôs-se aos pulos em abraço comunitário, e aos gritos, porque este de hoje foi jogo de valor, como se costuma dizer.
Quem tem facebook escreve esta noite no facebook sobre o jogo.
Quem sabe tuitar fá-lo por aí sobre o jogo.
Quem tem um blogue pode espraiar-se mais ou espraiar-se menos e divagar sobre o jogo.
Quem não tem nada disto, mas tem telefone, já ligou a alguém e está a falar sobre o jogo.
Quem vai no carro dá murros na buzina, que eu estou daqui a ouvir.
Eu não percebo nada de futebol e não gosto de me meter pelo tema adentro, porque o mais certo é espetar-me nalgum poste de sentido proibido, pagando com um galo na testa a distracção.
Mas há uma coisa que eu percebo.
Percebo que nós, povo lusitano, dorido de cortes nos salários, ajustamo-nos aos cortes nos salários, nós, povo sofrido com o aumento da idade da reforma, conformamo-nos com haja saúde e ainda metemos no horário o transporte dos netos à escola, nós, povo magoado com o encurtamento das férias, aprendemos a compensar aos fins de semana, convidamos mais vezes os amigos e distribuimos abraços a torto e a direito, que é assim que somos, nós, povo desiludido deste lugar ao sol que parece não lhe pertencer, aproveitamos a praia até ao limite, nós, povo que dantes andava de carro, aprendemos as vantagens do comboio, do metro e de andar a pé.
Mas constato sem hesitar que há uma régia excepção, um intervalo neste padrão de ajustes que carregamos às costas e nos marca as passadas.
É que nunca este bom povo de Portugal, nunca estes lusos, inflamados corações, muito ou pouco entendedores da arte de chutar a bola, nunca esta boa gente se adaptaria a ficar de fora nas classificativas para um mundial de futebol.
E a isto, meus senhores, eu tiro o chapéu.
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