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Com certeza que, assim como eu, os meus amigos condutores que se deslocam em autoestrada com três faixas já repararam num flagelo chamado "condutores de faixa do meio".
É bastante antiga a fama que têm os molengas de estrada de andar a pisar ovos. Em situações extremas, já sem paciência, o meu avô dizia que eles estavam a separar a clara da gema, o que eu sempre achei um piadão, essencialmente porque sentido de humor não era uma das qualidades do meu avô.
Então, já repararam certamente que esses condutores super zen, por vezes, circulam calmamente na faixa da direita, cumprindo (e muito bem) o limite de velocidade em que se sentem confortáveis (ou seja, MEGA devagar!) e subitamente, assim que veem uma saída, se atiram para a faixa do meio, em pânico que a faixa da direita sucumba e os leve a um universo paralelo em chamas, governado por hienas gigantes e famintas, ou coisa que o valha.
Certo dia, um desses condutores, em plena A5, além de recear ser engolido pela faixa da direita, precaveu-se e, depois de se atirar com toda a pujança para a faixa do meio, logo em seguida, fez o mesmo para a da esquerda, onde eu estava, não fosse acontecer o mesmo à do meio, provocando, no meu pobre peito uma taquicardia que esteve a um danoninho de me levar à urgência do hospital mais próximo. E depois lá continuou, calma e alegremente, em velocidade tartaruga, em direção ao seu destino, na faixa da esquerda. E eu fiquei a hiper ventilar e a controlar o ataque de pânico que o moço (ou moça, não sei) me provocou.
Assim, envio por este meio uma carta aberta aos adeptos do pisamento de ovo nas estradas portuguesas. Afinal, as redes sociais são um ótimo meio para estes desabafos.
Então, aqui vai:
Caro amigo comparsa condutor que pratica ioga ao volante em plena autoestrada,
Vamos lá a ver, se a dita estrada está equipada com três faixas, há que utilizá-las à vontadinha, mas convenientemente. A faixa da direita é para circular a malta toda, que vive em estado permanente de calma (que eu muito admiro e invejo), a qualquer hora do dia ou da noite, dando oportunidade a toda a família de usufruir das belas paisagens portuguesas com todo o pormenor. Mas não receie, caro amigo. A faixa da direita não se evapora como álcool em dias de verão. Se o meu amigo estiver atento às setas que aparecem desenhadas no asfalto, as mesmas indicam quando há uma faixa que vai acabar, e tal não acontece assim, num estalar de dedos ou num piscar de olhos... a coisa dá-se com calma. E há tempo para mudar de faixa com toda a segurança. Muito tempo aliás, tendo em conta a velocidade a que o meu amigo se desloca. Assim sendo, atente às indicações que lhe são fornecidas no chão ou nas tabuletas que são tão úteis a todos e deixe-se estar na sua faixa sem se atirar para cima do resto do pessoal que não partilha dessa sua qualidade de circular com toda a calma do mundo.
Pode ser?
Pronto, já desabafei. A liberdade de expressão é fixe. Obrigada, Capitães de Abril!
Catarina Rodrigues