O prometido telefonema do técnico chegou. Atendi e reconheci-lhe a voz. Era o mesmo homem mal disposto que veio ressuscitar o carro da outra vez. Dessa, lembro-me que trazia uma velhinha muito magrinha com ele. Uma velhinha que se torcia sobre o corpo esquelético e não falava. Talvez fosse a mãe. Expliquei-lhe o sítio, confirmei a morada. Com jeitinho. Tentei falar da bateria, mas nem pensar. Palavras inúteis, ele é que saberia do mal do carro ao chegar (como se eu fosse burrinha atómica ou sem cérebro). Estou no meio da cidade, grunhiu, é o tempo de chegar aí. Qual cidade, perguntei, Coimbra? Claro!!, soltou o homem, e acrescentou no mesmo estilo, qual é que havia de ser!? Não lhe expliquei que este país tem outras cidades, e coisas tipo assim esquisitas.
Meia hora depois, exatamente como da primeira vez, voltou a ligar. Bufava, estava no sítio errado, de novo se havia extraviado e de novo a imbecil era eu que não expliquei ou que não arrumei melhor os lugarzinhos perdidos na serra do Portugal. Acusou-me de inexatidão (sem usar a palavra inexatidão). Comecei a repetir o nome da aldeia, mas ele não ouvia, bufava, dizia que isto é uma chatice. Mas de repente num intervalinho da má educação, ouviu. Quê?! Carvalhinhos?!, cuspiu. Para o Caralhinho é que teria sido bem enviado o senhor. Todavia não. Direcionei-o para este Carrinho. Morto.
E desta vez nada, morto continua ele, agora só amanhã. Com reboque.
(a velhinha muito magrinha que se torcia vinha de novo com ele, a aturá-lo desde Coimbra - só pode mesmo ser a mãe)