Enquanto não relatar a ocorrência neste blogue (tem de ser
neste), ela não deixa de me ecoar na cabeça, género conta-me, conta-me.
Como se ela, a ocorrência, soubesse que eu, ao contá-la, revivo-a com uma intensidade que desejo. Mas precisava de um pretexto.
De manhã, ao
invés de engolir o pequeno almoço, comi-o sentada. E isso deu para ler duas páginas
do livro dos pequenos almoços, que é um habitante da cozinha com vista
para o rio e o sol nascente, especialmente para o sol nascente e não é de receitas. Clarice
Lispector. Esta manhã falava sobre dar muitos beijos aos filhos, quarenta
beijos aos filhos. Eu leio-a e oiço-a falar, eu leio-a e queria perguntar se foi vinte beijos a cada filho ou quarenta a um e depois quarenta a outro (são dois filhos). E hoje, por causa dos beijos que Clarice deu nos filhos, conta-me, conta-me.
A minha primeira filha tem seis anos e já desenvolveu instinto maternal para com a irmã, que tem três e é marota o melhor que pode. Deitei-as, li-lhes com certeza uma história, bocejei muitas vezes durante a leitura, arrumei o livro, dei um beijo à mais velha, depois vou dar outro à mais nova, que tapa a cara com o lençol para se esconder e não deixa que eu a beije.
- Pronto, se não queres, a mãe não dá, durmam bem. - e saí do quarto.
A meio do corredor já oiço a algazarra, quero!, quero!, mãe! vem cááá!..... ao que eu não respondi, fui fazer uma coisa qualquer sempre a ouvir a gritaria do quero! quero! já a descambar para uma choradeira estratégica de me amolecer o coração. A irmã, que até agora não tinha emitido opinião, grita lá do quarto, mãe!, anda lá!, coitadinha, ela já está a chorar, é só um beijinho!! De maneira que o concerto foi agora a duas pequenas vozes até eu ceder e retomar o caminho de volta ao quarto. Entrei e vi a cabeça mais pequenina destapada, os olhos muito abertos para mim, calou-se a vozinha reclamante e a mais velha ainda repetiu, mãe, coitadinha, ela já estava a chorar... Aproximei-me da coitadinha e dei-lhe um beijo devagar, mas depois esqueci-me de vir embora e fiquei ali a sentir o cheirinho morno e doce da minha filha, quedei-me aos beijos naquela testa, nas bochechas, nos caracóis macios, sei lá eu, outro e mais outro, ela agora satisfeita, aquilo já ia no beijo número quarenta, sim, talvez quarenta, quando se ouve da cama ao lado
- Ó mãe!... também não era preciso estares aí nesse miminho horroroso!...
(claro que os próximos quarenta beijos foram de seguida depositados na menina de cabelo mais escuro, também encaracolado, aqui da cama ao lado)
A minha primeira filha tem seis anos e já desenvolveu instinto maternal para com a irmã, que tem três e é marota o melhor que pode. Deitei-as, li-lhes com certeza uma história, bocejei muitas vezes durante a leitura, arrumei o livro, dei um beijo à mais velha, depois vou dar outro à mais nova, que tapa a cara com o lençol para se esconder e não deixa que eu a beije.
- Pronto, se não queres, a mãe não dá, durmam bem. - e saí do quarto.
A meio do corredor já oiço a algazarra, quero!, quero!, mãe! vem cááá!..... ao que eu não respondi, fui fazer uma coisa qualquer sempre a ouvir a gritaria do quero! quero! já a descambar para uma choradeira estratégica de me amolecer o coração. A irmã, que até agora não tinha emitido opinião, grita lá do quarto, mãe!, anda lá!, coitadinha, ela já está a chorar, é só um beijinho!! De maneira que o concerto foi agora a duas pequenas vozes até eu ceder e retomar o caminho de volta ao quarto. Entrei e vi a cabeça mais pequenina destapada, os olhos muito abertos para mim, calou-se a vozinha reclamante e a mais velha ainda repetiu, mãe, coitadinha, ela já estava a chorar... Aproximei-me da coitadinha e dei-lhe um beijo devagar, mas depois esqueci-me de vir embora e fiquei ali a sentir o cheirinho morno e doce da minha filha, quedei-me aos beijos naquela testa, nas bochechas, nos caracóis macios, sei lá eu, outro e mais outro, ela agora satisfeita, aquilo já ia no beijo número quarenta, sim, talvez quarenta, quando se ouve da cama ao lado
- Ó mãe!... também não era preciso estares aí nesse miminho horroroso!...
(claro que os próximos quarenta beijos foram de seguida depositados na menina de cabelo mais escuro, também encaracolado, aqui da cama ao lado)
Os beijos nunca fizeram mal a ninguém, sobretudo a filhos. Antes por excesso do que por defeito.
ResponderEliminarAgora que o meu está um rapaz adulto e já não me permite esses acessos de mimos, vingo-me nos gatos!
Beijinhos, Susana, bom fim de semana.
Concordo, aos filhos antes por excesso que por defeito no que respeita a manifestações de amor.
EliminarEu ainda consigo capturar as minhas para os beijos... elas aguentam bem. :-)
E gatos não posso ter... sou muito alérgica :-(
Beijinhos, querida Ava, bom fim de semana.
Ainda adoro os beijos da minha mãe.
ResponderEliminarBeijos, Susaninha :)
A tua mãe é assim fofinha como tu, Maria? Acho que até eu gostava de ter um beijinho dela. :-)
EliminarBeijos para ti, querida Maria Eu, e bom fim de semana.
Eu estou como a Maria, que maravilha são os beijos da minha mãe :)
ResponderEliminarBeijinhos
Olá Costureira! Os beijos das mães costuram bordados nutritivos nas nossas almas. Quantos mais tivermos, melhor.
EliminarBeijinhos também para ti e bom fim de semana :-)
Oh que fofo :D
ResponderEliminarObrigada, Hélder. :-)
EliminarAproveite enquanto pode, na adolescência costumam mesmo rejeitar, mas com o tempo também lhes vai passando...
ResponderEliminar~CC~
Olá CC, bem-vinda!
EliminarAs minhas filhas já estão na adolescência, a história que contei passou-se há 13 anos :-) (mas eu nunca esqueci o "miminho horroroso")
E sim, aproveito, aproveitei sempre. :-)
Um beijinho, CC.
:)
ResponderEliminarTão bom, dar e receber. De mãe :)
Beijinhos
Olá Vizinha!
EliminarEu nem sei se é melhor dar se receber... :-)
Beijinhos de volta, bom fim de semana.
Ai que maravilha que é beijar as meninas. Só tenho uma. Dou-lhe 80 beijos, e ela já está cansada.
ResponderEliminarUvinha, tu dá descanso à miúda, 'tadinha. Oitenta beijos é uma fartura! Não dá para distribuir isso pelo fim de semana, nem nada? Ou pela gata acrobata? Não havia a pobre ML de estar cansada...
EliminarEu até ia mandar um beijinho para ela, mas agora já nem sei se mande... olha mando para ti, pronto: um beijinho, Uva.
Tão bom. Saudades que tenho de dar beijinhos aos meus que já são homens e não querem cá beijos lamechas de mãe. Dá-lhes mais uns por mim. Nas bochechas :))
ResponderEliminarDarei, sim. Elas vão sorrir e agradecer. :-)
EliminarE eu aos teus não me atrevo, mas a ti sim: beijinhos, GM, e bom domingo.
E há lá melhor coisa que ver os nossos beijos a deslizar, contentes, pelos caracóis dos nossos filhos?
ResponderEliminarBeijinhos, Susaninha :)
Acho que não há, não. :-)
EliminarBeijinhos de volta, querida Miss Smile.
A minha avó adorava beijos. Era insaciável, queria sempre mais. Então decidiu comprar. Pagava um escudo por uma quantidade de beijinhos que era negociável...O meu irmão mais novo era quem vendia os beijinhos mais caro. Hoje é bem sucedido nos negócios. :)
ResponderEliminarHistória tão querida esta, Susana, a valer tantos.
E mais um.
Ou seja, uma avó que adora beijos pode estimular um neto a ter sucesso nos negócios. :-)
ResponderEliminarObrigada pela história, querida Teresa.
E agora outro.
Uma história tão enternecedora, adorei lê-la (fiquei a pensar em como gostaria de ter filhas mas que tenho a sorte de ter a minha mãe e ter irmãs)
ResponderEliminarum beijinho
Gábi
Querida Gábi, muito obrigada. :-)
Eliminar(espero que venhas a ter as filhas que desejas, que bom é desejar filhos assim)
Um beijinho.