a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

05/04/2016

Inseticida, o afrodisíaco

Hoje, depois de vários dias sem blogar nadinha, nem aqui nem em lado nenhum (tirando uma ou duas exceções muito raras), devido a mergulhos profundos em mares reais, fiquei admirada de encontrar o blogue ainda vivo quando, a medo, entrei a ver se apanhava alguma mosca varejeira a comer-lhe os restos. Não: o blogue tinha tido visitas nos últimos dias e continuava a ter, estava todo arejadinho, sem pó nem cheiro a mofo, ora isso foi bom.

Mas comprei um inseticida do tipo casa-e-plantas por causa de um pulgão branco muito quieto que atacou a minha família de três orquídeas, duas a dar flor desde janeiro (o ano passado apaixonei-me por orquídeas e este ano por um livrinho, já contei). Pulgão é o nome que me ocorre atribuir aos dois exemplares cheios de patinhas que parecem pelos, pousados nas folhas de grande porte que estas flores ostentam todo o ano sem parar (as folhas parecem de plástico, é isso que se quer dizer). Vaporizei-as com vigor e com o casa-e-plantas psssssssssssssss com incidência especial nos exemplares pousados nas folhas. Isto claro que de braço esticado e sem respirar durante o máximo tempo que consegui antes de ficar roxa (na piscina, nos verões com as minhas irmãs, conseguia doze segundos debaixo de água). Mas os pulgões - que talvez tenham outro nome, visto que não se mexem - não morreram. Preferiram (como não sei) reproduzir-se muito. Muito muito, mesmo muito, imenso, coelhos não teriam feito melhor e agora é todo um polvilhado branco de micropulgões muito quietos atrás das orelhas das minhas flores, dentro dos olhos, nos delicados caules, caídos nas folhas verdes que parecem de plástico como se isto fosse o da joana. Eh pá eu não acho graça nenhuma a pulgões, mesmo que paradinhos. De maneira que enfurecida fui buscar o casa-e-plantas ao armário fora do alcance das crianças que já cresceram mais que o próprio armário e dei-lhes outra: psssssssssssssss sem respirar os doze segundos que já sabemos.

Mas depois pensei. Bolas. Se calhar, quer dizer, agora que reflito nisto, e já me desenfureci, se da primeira foi o que foi, aquele expoente da multiplicação, da segunda, enfim, é capaz de aquilo ai valha-me deus.

A menos que haja alguém desse lado aí que saiba precisamente o que fazer em casos de se querer matar pulgões das orquídeas em vez de, pelo contrário, lançar no mundo a população da china em coisinhas daquelas, isto vai murchar tudo tarda nada, para além de morrer.

(e isso é que havia de ser motivo para eu vir aqui ler poesia no blogue, satisfeita, em agradecimento)

22 comentários:

  1. Eu cá de orquídeas, nada, de pulgões, menos, mas sei que a minha avó me contava que um dia, se viesse o fim do mundo (num autocarro ou assim) as pulgas e as baratas eram as únicas sobreviventes porque se alimentavam de coisas tóxicas.

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    1. Isso de o fim do mundo vir de autocarro é uma grande ideia, querida Uva. Tua ou da tua visionária avó?
      :-)

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  2. https://www.youtube.com/watch?v=CTrb2kjWg3k
    1º Técnica da joaninha
    2º Técnica do cotonete
    3º Técnica do esguicho (em desespero)

    Se não resultar ofereço-te uma orquídea; mas por favor lê poesia :)
    Agora a sério, eu salvei as minhas rosas com determinação
    matando os pulgões à mão!

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    1. Se eu matasse aquelezinhos à mão, bem precisava de viver mais uns cem anos... Teresa, eles são muitos muitos (e eu não adoro a ideia de os esmagar com os dedos). Mais logo vejo as tuas recomendações do youtube e se resultar, teremos poesia, ai teremos! :-)

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    2. Teresa, vi o vídeo. :-)
      maravilhoso, principalmente porque estes meus pulgõezinhos lisboetas não voam!!!!! (felizmente) e os lá do Brásiú é que nem cê viu, né? (ela djici "voam"!)
      maisssss, claro, vou tentá a ezguixáda. Acho qui vai dá.
      (brigada, viu, Teresa? cê foi djimaizzz)

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  3. Não resisto ao apelo de uma cidadã em apuros. Vou já mandar para aí o Secretário de Estado da Agricultura.

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    1. Mande o Secretário, Senhor Ministro, quando ele chegar estabelecemos uma Comissão de Inquérito para averiguar as causas da praga e aplicar-lhe o adequado extermínio.
      Muito grata lhe fico.

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  4. deixo um pedaço de Cesário, que também sem bolor, se mantém Verde, e um forte abraço.

    «Ah! O campo não é um passatempo
    Com bucolismos, rouxinóis, luar.

    A nós tudo nos rouba e nos dizima:
    O rapazio, o imposto, as pardaladas,
    As osgas peçonhentas, achatadas,
    E as abelhas que engordam na vindima.

    E o pulgão, a lagarta, os caracóis,
    E há inda, além do mais com que se ateima,
    As intempéries, o granizo, a queima,
    E a concorrência com os espanhóis.»

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    1. Ah, querida flor, tu descobres essas pérolas poéticas e muito adequadas!
      Não sabia que Cesário Verde era tão divertido! (Tenho mesmo de perder o medo à poesia e mergulhar de vez, pronto)

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  5. Susaninha. Penso que te enganaste no frasco. Talvez, em vez de insecticida, tenhas comprado fortificante para reprodução dos ditos "pulgões".
    Hum ?! Lê lá novamente a etiqueta da embalagem....
    Ainda assim, eu tentaria primeiro o processo manual. Eliminar os ditos um a um com os dedos. É que não sou muito dada a métodos industrializados! :D
    Beijinhos

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    1. Já confirmei, Mafy, é mesmo um verde casa e plantas...mas os meus dedos preferem outros métodos. :-)
      Beijinhos de volta.

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  6. Já tive uma orquídea com essa doença, receitaram-me a pulverização com água e sabão azul diluido. Não só não resultou como ainda matei a orquídea. Lamento, não sei o que diga. Boa sorte :)

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    1. Obrigada na mesma, GM. Acho que vou ter de arranjar um exterminador implacável e depois logo se vê...
      :-)

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    2. Susana, por tua causa, descobri que o "exterminador implacável" dos pulgões é, imagina, um bichinho que me encanta, a joaninha. A joaninha é o predador natural do pulgão. Quem diria? A simpática joaninha capaz de ser um autêntico inferno para o pulgão. Seria a solução ideal, na falta de joanhinhas tenta o inseticida, mais duas vezes, com um intervalo de sete a dez dias. (muito pragmatismo? tento poesia para a próxima :))
      Bom ter-te de volta, beijinhos :)

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  7. A nossa doutora dos animais ali em cima é que domina o métier e avançou logo com a solução da joaninha. Vou ver se encomendo uma arroba delas, para que se deleitem aqui com estes serzinhos pouco apetitosos, blharg.
    Eu acho que por muito pragmatismo que tenhas, também tens sempre poesia, querida Cláudia.
    Bom dia. :-)

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  8. Joaninhas combinam com orquídeas e poesia - têm cor, um alfabeto de silêncio e um travo secreto de alegria.

    Um beijinho, querida Susana

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    1. Miss Smile...Poderia existir escolha mais acertada para cartão de visita de alguém que anda por aí a distribuir sorrisos e faz sorrir de volta?
      Não me fazer sorrir, é raro, achei que gostaria de saber, Miss Smile.

      (sei que me desculpas isto, Susana, mais, acho que também sorriste :). Até já.)

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    2. "Um alfabeto de silêncio" é expressão que me faz suspirar para deixar entrar a tranquilidade e esquecer-me por um momento que tenho ali uma colónia de bichos para trucidar (detesto matar seja que bicho for).

      Cláudia, esta casa é minha e vossa, de quem entra e lê, de quem sai logo e de quem ainda fica para escrever, por isso não há nada a desculpar. E claro que acertaste, sorri e ainda estou a sorrir. :-)

      Obrigada às duas, beijinhos também. :-)

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    3. A Cláudia também tem o dom de me fazer sorrir com os comentários que aqui deixa nesta casa tão aconchegante que é a da Susaninha - saio sempre daqui abraçada a um ursinho e peluche. :) Os sorrisos nascem da atenção e da delicadeza que dedicamos uns aos outros. E eu agradeço a atenção que colocou nas suas palavras porque, também elas, me fizeram sorrir.

      Um beijinho :)

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    4. Querida Miss Smile... essas palavras sobre esta casa ser aconchegante fizeram-me bem.
      Muito obrigada :-)

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  9. Cuidado com o PAN.
    Assassina de pulgões.

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    1. Mas não muito boa, Cuca. Eles estão de melhor saúde que eu e até se reproduziram.
      Vou já consultar o folheto do PAN, há de haver lá uma cláusula para situações destas (isto se não encontrar por aí uma mão cheia de joaninhas com fome, claro).

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