a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

18/09/2022

Uvas morangueiras

De manhã li dois contos da Clara Pinto Correia, numa edição antiga da Relógio d’Água comprada na Feira do Livro do Porto por cinco euros. Cada vez leio mais silêncios destes. Não são silêncios absolutos, são suspiros, outras vezes sussurros, ou então apenas um monólogo numa voz que não pretende chegar a nenhum lado e por isso não leva urgência, antes traz macieza.

Depois peguei a rua empedrada e fui andar até ao fim da estrada de terra batida, atravessada aqui e ali por pegadas das corças e, ao comprido, riscada pelas marcas da carrinha do padeiro. A estrada sobe, ladeada de altíssimos eucaliptos, até à nacional, onde termina. Aí, dou a volta e desço de novo à aldeia. Junto a uma das casas abandonadas à entropia, cuja fachada foi erguida rente ao empedrado, resiste um punhado de hortênsias com as pequenas pétalas muito doentes, claramente tentando não morrer de tristeza. Não peguei no trabalho. Estendi a roupa ao sol, no terraço, e cortei alguns cachos de uvas morangueiras para levar à minha irmã, juntamente com os bolos que irei comprar ao padeiro quando ele passar mais tarde, por ser sábado.

2 comentários:

  1. Colher, não colhi. Mas comi, para sobremesa do almoço, dessas uvas bem tintas e doces. :)

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    1. E são pequeninas e de pele mais grossa, não são? Mas boas, pois. Olá, luísa :-)

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