a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

11/02/2025

Uma espécie de nevoeiro no comboio da noite

Há uns dias, no escritório - sim sim, por vezes encontro-me fora do autocarro ou do comboio -, uma colega oriunda do Brasil lembrou a sua infância lendo gibi. A base de dados armazenada na memória orgânica de que disponho apresentou-me então a tradução para o português deste lado: livros de banda desenhada ou, como nós referíamos, livros do tio Patinhas. Mesmo que fossem do Zé Carioca, Professor Pardal, ou outras variantes.
Acho que li tudinho o que desse estilo se publicou em Portugal e em português do Brasil, naqueles tempos em que as minhas irmãs e eu tínhamos férias de três meses entre a praia e a beira da piscina, para não dizer quatro. Portanto, os livros do tio Patinhas eram lidos e relidos.
O que porém fiquei por saber foi a razão misteriosa por detrás das relações familiares entre os famosos patos. Havia os tios e havia os sobrinhos. Não havia nunca nem pais, nem mães e portanto nem filhos.
O tio Patinhas era tio, o pato Donald tio era, o Huguinho, o Zezinho e o Luisinho, sobrinhos. E mesmo a Margarida, quando surgia, conseguia ser tia de alguém sua sobrinha. Se não estou a inventar, o próprio Zé Carioca, que outra ave encarnava, ou melhor, enverdava, apareceu com um sobrinho da mesma cor. A sério, isto interessa-me. 

(no comboio cheira tão bem a croissants que sou capaz de começar a engordar outra vez)

E de perguntar amanhã no escritório, à minha colega Brasuquinha, versada em gibi, se ela conhece a razão de tão denso mistério. 

4 comentários:

  1. Algures nos finais dos anos 30, Della Duck "despachou" os três filhos gémeos para passarem uma temporada com o mano também gémeo, Donald Duck (todo um universo por explorar também, este dos gémeos na Disney :-)) Foi à vida dela (pilotar aviões, nem menos) e os filhos por lá ficaram com o tio todos estes anos, até hoje (nonagenários, mas viçosos, decerto).
    No meu liceu, há muitos, muitos, anos, havia um livro (bem que gostava de o ter agora) que falava dos significados dos vários personagens da Disney. Se bem recordo, a ausência dos pais permitia mais liberdade nas histórias -- nenhum pai que se prezasse, ainda que tivesse um espírito aventureiro como Della Duck, permitiria as tropelias de Huguinho, Zezinho e Luizinho.
    De todo esse universo, a minha personagem favorita é Maga Patalójika, outro espírito livre -- Walt Disney, ou melhor Carl Barks, o criador destas personagens, estava muito à frente do seu tempo :-)
    Um feliz resto de feliz de feveiro, cara Susana. Que a fantasia nos salve -- ou pelo menos nos faça esquecer por uns momentos -- do que pelo mundo vai.

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    1. Também gostaria de conhecer esse livro com os significados dos personagens de Walt Disney. Talvez haja até alguns estudos por esse mundo fora em torno das psicologias dos personagens. Eles tinham de facto uma personalidade invariável, nunca as suas características diferenciadoras nos (me) desiludiam! Mas realmente aquela coisa de serem todos tios e sobrinhos deixava-me uma sensação de incompletude. Enfim, velhos tempos em que as nossas (minhas) preocupações andavam à volta desses mistérios.
      Uma boa continuação de fevereiro, caríssimo xilre. :-)
      Sim, que a fantasia nos salve, já que a realidade mundial está tão esburacada.

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  2. Eu tenho uma "queda" pela Magali...e um fraquinho pelo inventor Pardal...mas isto foi à força do pai da minha filha adorar essas historiazinhas...em minha casa não havia. Nos meios intelectuais que frequentei na juventude, isso nem era literatura... Mas agora estou um bocadinho com o Xilre, talvez capaz de revisitar e captar significados antes não vistos...quem sabe inventar toda uma psicanálise aplicada a...Bom resto de Domingo.

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    1. A Magali! Eu achava-a valente (e ela era!) em gostar tanto de melancia, quando havia e há comidas muito menos aborrecidas para o meu gosto de então. O inventor Pardal levou-me a acreditar que havia mesmo a profissão de inventor.
      Boa semana, CC!

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