Pediram-me para contar esta história outra vez. Contei-a ontem, conto-a hoje.
Estou com uma das minhas filhas na fila da caixa de um supermercado e seguro nos braços os três ou quatro produtos que me tinham escapado à última lista de compras. Comigo também está a pressa de ir apanhar a mais nova à outra escola, paragem seguinte do final desta tarde. À minha frente um pequeno grupo de mulheres de etnia cigana, todas muito bem desenvolvidas se olharmos ao espaço que os seus corpos ocupam. Em cima do tapete rolante, que não rola ainda, descansam outras três ou quatro coisas que presumi pertencerem-lhes.
Guardo habitualmente espaço entre mim e as pessoas da fila onde estou. Mas não terá sido por isso que sou de repente praticamente atropelada por um carro cheio de compras, empurrado por um homem que pela tez percebi pertencer ao grupo à minha frente. Passa por nós, ignorando-nos, e posiciona-se junto das ciganas, fazendo menção de iniciar a colocação das suas compras no tapete, que continua estático.
- Olhe, o senhor! A fila é aqui atrás, se faz favor.
E foi quando vi todos prontamente alinhados à minha frente, parede humana que parecia conhecer-me desde sempre, tão solto era o tratamento, por tu e por filha, lançando-me perguntas mais ou menos aos gritos sobre as minhas preferências relativamente às diversas formas de me chegarem a roupa ao pêlo, que me disponibilizavam logo ali, seu eu quisesse, ou então lá fora, filha, se gostares mais lá fora, ofertas de cuja generosidade, a avaliar pelos corpanzis em causa e a energia colocada na cena, não me pus a duvidar.
- Não se incomodem, não há necessidade. Vocês são muitos, eu sou só uma. Façam favor.
Mudei para a caixa mais afastada e mantive a roupa descolada do pêlo.
Na verdade nós éramos duas, só que a outra tinha apenas dez anos. E pediu-me, a tremer, para nunca mais irmos àquele supermercado.
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