a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

08/09/2015

Agarradinhos a namorar

Foi ao abrir a porta do frigorífico à hora do jantar que a taça de mousse de chocolate que lá está dentro, me encontrou. Devo parecer-lhe apetitosa, visto que me saltou para os braços e eu, para que não se partisse em cacos, a taça, ainda que cacos achocolatados dispostos espontaneamente no mármore do chão, abracei-a sem hesitações de maior. A gaveta de cima entra agora, ainda este abraço está a aquecer, deslizando para a posição de aberta para deixar ver uma colher de sopa vir aconchegar-se-me na mão direita e depois, daí a nadinha, estavam duas – colheres de sopa – de mousse de chocolate dentro da minha barriga, isto parece que vai depressa porque saltámos o episódio da utilização da taça mais pequena e de colher mais pequena, cena a rigor que aqui em casa não se come à homem das cavernas mesmo que seja mousse de chocolate, e isto foi tudo a acontecer precisamente antes de ideias úteis para o lar me visitarem os neurónios mais rápidos, ideias como abrir a porta do frigorífico revestida de uma máscara ou disfarce bem feito para não ser encontrada pelo pecado (mousse de chocolate e pecado vivem no mesmo jardim, um é o caule a outra a pétala a esvoaçar na brisa da manhã ao som do cantar de um pássaro pequenino e com isto se podia fazer uma poesia muito bonita, não fosse eu ter uma data de trabalho para acabar esta noite).


(a taça de mousse de chocolate infiltrou-se-me em casa enquanto estive fora, ora isto, ainda que muito depois do Big Bang, somado a ter filhas experimentalistas de doçaria, produz átomos deliciosos muito agarradinhos a namorar em moléculas castanhas, a culpa não é minha)

15 comentários:

  1. Até aposto que também existiam na-no-par-tí-cu-las bem aconchegadas! ;)
    Beijo, Susana.

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    1. Claro que sim, Isabel! Numa mousse de chocolate bem encorpada, está lá a família inteira das partículas (desde que deliciosas, evidentemente).

      Outro beijo, Isabel!

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  2. Ui quem é que resiste a uma taça de mousse de chocolate a saltar-lhe para os braços?!
    Uma mulher não é de ferro!
    ;) beijinhos Susana

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    1. Minha querida Mafy, gosto tanto de te "ver" de novo!
      E é precisamente por não ser de ferro - apesar de ter ficado com mais ferro devido ao chocolate da mousse - que te saúdo efusivamente com um abraço de duas voltas e um beijo repenicado! Mais, vou deixar ficar o comentário replicado, quem o consegue apagar depois de tanto tempo sem te "ver"? :-)
      saudades...

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  3. Ui quem é que resiste a uma taça de mousse de chocolate a saltar-lhe para os braços?!
    Uma mulher não é de ferro!
    ;) beijinhos Susana

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  4. Um post tão docinho como uma taça de mousse de chocolate :)

    Um beijinho, Susaninha

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    1. Ah, querida Miss Smile, às vezes as saudades são tantas (de escrever) que qualquer coisa doce serve de mote! :-)

      (sabe que o "Mulheres" do Bukowski foi dos poucos livros que abandonei a meio?)
      Outro beijinho, Miss Smile, do mais doce possível. :-)

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  5. Querida Susana Rodrigues,
    Parece que virou moda, essa mania das mousses de chocolate. É das minhas tendências preferidas. Intemporal.
    Bom dia,
    Outro Ente.

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    1. As mousses de chocolate (e tudo o que for de chocolate) bem podem ficar fora de moda, dentro da moda ou da média, medianas é que elas não serão nunca, talvez mais tendam então para um infinito... intemporal, de facto.
      Boa noite, querido Outro Ente.

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  6. "...átomos deliciosos muito agarradinhos a namorar em moléculas castanhas..." deliciosa é também esta frase e o que eu gostava de ter tido a ideia de descrever assim uma mousse de chocolate. (vou passar a definir assim o leite creme, ou o pudim francês, afinal é por eles que morro de amores).
    Beijinhos, Susana.

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    1. Cláudia, eu ainda estou sob o efeito do debate que andas a fazer lá no Pipoco, com essa classe que tu transpiras sem esforço, que maravilha de lucidez, que arte. É um prazer, deixa-me lá repetir, ler os teus comentários.
      E muito obrigada por este, querida Cláudia.
      (esses outros pedaços de mau caminho a que te referes também são capazes de me fazer revirar os olhos, que hei-de fazer?) :-)

      Por falar em pudim, recomendo-te esta leitura:

      http://despesadiaria.blogs.sapo.pt/ - é o post de 27 Fevereiro 2015 (não está longe)

      Beijinhos, Cláudia.

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    2. Tenho mesmo de vir aqui deixar-te, um muito obrigada, não dos que se acha que se deve, mas dos que se quer mesmo muito deixar. E é só mesmo isto ( foi tão bom ler o que escreveste, que fiquei sem saber o que dizer e se eu, às vezes, escrevo pelos cotovelos :)).
      (Muito obrigada, também, pela tão boa leitura que me recomendaste)

      Uma muito boa noite, Susana.

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    3. Cláudia, nada de que agradecer. Eu só escrevi o que sinto.
      Até podes escrever pelos cotovelos, mas então olha que tens uns cotovelos muito habilidosos... :-)
      Bom fim de semana, Cláudia. Por exemplo, com boas escritas e boas leituras.

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  7. Ah, os doces no frigorífico! São como alguns personagens daquelas séries do Syfy, parece que já não mexem mas estão prontos para nos apanhar!!

    Beijinhos melosos, Susaninha. :)

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    1. Pois fui apanhada fui! (eu não vejo séries, sei que sou um bocado extra terrestre, mas tenho um problema sério com televisão... é que com tanto livro bom para ler... com tanto blogue...sei lá... pronto)
      Beijos melosos de volta, querida Maria :-)

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