a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

02/10/2016

Uma meditaçãozinha

Apetece-me imenso viver até aos cem anos ou mais. Por isso nunca fumei nem nunca usei drogas, nem passo o limite de velocidade quando estou ao volante, nem me embebedo (tirando uma vez num jantar de família sem querer, coitadinha da minha mãe), nem nunca passei uma noite inteira sem dormir, nem vou comer a comida rápida com maldades para a saúde, nem guardo rancores de pessoas que me fizeram mal, em suma, quase a receita do pãozinho sem sal, não o sendo.

Portanto que mais há? Há que ontem experimentei fazer oito minutos de meditação. Marquei-os no meu telefone inteligente, para me acordar esganiçadamente ao cabo desse tempo, não fosse eu encontrar-me dentro de mim e ficar por lá esquecida a entreter-me com qualquer coisa. Mas oito minutos a ouvir-me respirar é um desafio de alto lá com ele, de modo que ao fim de uns segundos pus-me a calcular a velocidade a que corre o sangue nas veias, entre duas batidas cardíacas e considerando o meu tamanho, ei!, respiração, concentra-te, respiração. Levava para esta viagenzinha de seiscentos e quarenta segundos uma na manga: se ouvir a própria respiração for pouco, pensar na palavra água, que é uma palavra que limpa por dentro e por fora. Mas o papagaio que é meu vizinho durante o dia, por falar em fora, não se calou todos aqueles segundos e as obras na rua, esta rua está sempre em obras, também não, a bomba de água do prédio não falhou o arranque que tornou a fazer-se ouvir e a porta da rua bateu. Água não bastou, portanto, houve que invocar um rio aos meus pés, depois entrar nele, nadar, deixar-me levar na corrente, não sei se isto é meditar ou se é adormecer, dei um salto na cadeira quando o meu telefone, que é mais esperto do que eu (quem abanou a cabeça e fez tss tss ali em cima?), me veio buscar ao fim de quatrocentos e oitenta segundos, que os minutos oitenta segundos não, pois não?

(mas hei de tornar, ah pois hei de!)

15 comentários:

  1. Eu acredito que a contagem também deve contar, passe o pleonasmo (desde que não se respire muito depressa, que uma coisa é contar até 480 outra, até 960, ou, valha-nos Shiva, até... sei lá, 3840. Uff...)

    Boa tarde, cara Susana. :-)

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    1. Acho que o meu problema foi talvez respirar muito depressa para fazer mais barulho e melhor me concentrar nisso. Um desafio a continuar. :-)

      Boa noite, querido xilre. :-)

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  2. coragem Susana. a meditação é um processo, e toda agente sabe que os processos levam tempo. :))
    beijinho,
    Mia

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    1. Pois, eu sei, já andei a ler umas coisas e as pessoas dizem quase todas isso, que de início custa. Mas eu gosto de coisas que custam. E acredito que meditar pode fazer-me bem, que eu quero mesmo viver muito. :-)

      Beijinho, querida Mia, e boa semana.

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  3. Suspeito que o nosso cérebro não foi feito para ficar vazio de pensamentos ou, de outra forma, não seria tão difícil fazê-lo.
    Nos tempos em que acreditava nos benefícios da meditação, consegui relativo sucesso com aquele sistema de imaginar uma luz dentro do corpo que depois se espalha. Dito assim parece um filme de terror, mas é experimentares para ver se funciona.

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    1. Acho que a ideia de uma luz que se espalha dentro de mim é até muito interessante, nada de terror :-) vou experimentar.

      Acho que nós, e o nosso cérebro, é bombardeado com muita poluição de todos os lados, sonora, visual e de outros tipos. Somos requisitados para muita coisa sem parar. E penso que o cérebro se habitua a essa montanha russa ininterrupta, mas, na verdade, não é feliz assim. Penso eu. Sinto eu.
      :-)

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  4. Já tentei meditar mas não consegui, de todas as vezes desatei a rir, quanto mais queria concentrar-me mais ria, mas como dizem que o riso também faz muito bem, olha, conformei-me :-)




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    1. O mais engraçado nisto de partilharmos as experiências que vamos tendo, é constatar as diferenças que nos unem. :-)
      No acampamento de verão em que as minhas filhas participam como monitoras de meninos mais novos, introduziram este ano a atividade "meditação" (em crianças dos 9 aos 11) e os meninos adormeciam em menos de nada. Foi um sucesso. :-)

      Boa semana, Cláudia.

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    2. http://66.media.tumblr.com/21aae042a4d040e72deb150278cb0215/tumblr_mspdcvkylp1s0mbfho1_400.gif


      :D

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    3. Um belo trabalho de equipa, portanto! :-))
      (se calhar é isso, falta-me o cão...)

      Lady Kina, que bom vê-la por aqui. :-)

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    4. Pronto, agora saio daqui a rir com o que a Lady Kina trouxe

      Boa semana também para ti, Susana e também para a Lady Kina.

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  5. Bommm...também não sei como é que se medita. Deve ser uma espécie de levitação sem assunto, mas confesso que não atinjo esse arrebatamento sem causa.
    E pensa que com esses cuidados todos chega aos 100.... Tá bem. Pelas suas contas vou chegar para aí aos 80. Vá...perco 20 anos para as variadíssimas noites em não fui à cama e para a ingestão casual desses venenos rápidos. Pronto, tá feito, viveremos bastante. Ou bastantemente.

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    1. Uma das necessidades que me foi chegando ao longo dos últimos anos é a de silêncio (um luxo, o silêncio). Acredito que a meditação será uma boa forma de mergulhar nesse luxo (e dela retirar também outros benefícios).
      Um abraço, bea, e uma longa e boa vida para si.

      (mas não há receitas, evidentemente...)

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  6. Sou uma desgraça nisso da meditação! Dá-me sempre imensa comichão no nariz!

    Beijocas pouco meditativas :)

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    1. Ah... a mim dá-me comichão no nariz sempre que estou a lavar a loiça com as luvas de borracha calçadas. Sempre.

      :-)

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