Leio ontem num artigo que nós, os
pais e mães de hoje, sofremos do chamado fenómeno-do-rosto-imóvel, isto numa
tradução de trazer por casa feita por mim. Sem nos apercebermos, diz o artigo,
mantemos o rosto isento de expressão durante as muitas horas em que mergulhamos
nos nossos ecrãs de trazer por casa, na rua e em qualquer lugar, são móveis (os
ecrãs, nós, imóveis). Sofremos então desse fenómeno. E este sofrer, segundo o mesmo artigo, vai limitar os
nossos filhos pequenos, bebés e por aí acima, que nos rodeiam e nos observam, vai limitá-los, é tomar nota, na
aprendizagem da interpretação das expressões faciais de que os privamos, imóveis, nos ecrãs. Ontem.
Hoje o dia foi melhor e eu até já estava bastante contente a
meio da tarde quando ainda fui ficar mais, devido ao que a minha filha mais nova
me contou em resposta à pergunta do costume como foi a escola hoje?
- Mãe, a s’tôra Adelaide disse-me que um menino lá da escola
lhe perguntou o meu nome.
- Hã? Que menino?
- Ó mãe, é um menino novo que me viu na sala de estudo e foi
perguntar à s’tôra Adelaide, aquela, sabes, que é super fofinha e é tipo a
nossa avozinha?
- Sei.
- Então ele perguntou o meu nome à s’tôra, disse que era a menina
que estava ao pé da janela, e a s’tôra, a Joana? Mas ele sabe quem é a Joana e
disse não, a outra, aquela que sorri com os olhos! E era eu, mãe, a s’tôra diz
que era eu! Fiquei tããããão contente!! E ele é suuuper giro, mãe!! Eu sei quem ele é!!!!
E eu pensei logo que os pais deste menino não terão sofrido do fenómeno-do-rosto-imóvel, lhe souberam mostrar o que é sorrir com os olhos e ele, caramba,
ele aprendeu.
(o artigo sugere que, ao menos, deixemos a mesa, ao jantar, livre de ecrãs)
Talvez fiquemos com menos rugas...
ResponderEliminarSem dúvida, Cuca. Mas as rugas são tão boas, contam histórias e isso. :-)
EliminarEsta canção não é do género que aprecias, penso eu, mas lembrei-me dela, gosto da letra (e da música também):
https://www.youtube.com/watch?v=o8pQLtHTPaI
Ah, mas esse estudo não sabe que eu tenho sempre um sorriso desenhado no rosto quando te leio no ecrã :)
ResponderEliminarUm beijinho, querida Susana :)
O estudo não sabe, pois não. Mas eu sei. :-)
Eliminar(sei mesmo)
Outro, querida Miss Smile.
E tenho a certeza que a tua filha, para além de sorrir com os olhos também sabe sorrir com a voz. Imagino que tal qual a mãe.
ResponderEliminarDaqui vai um sorriso com os dedos nas teclas com reflexos dos pés à cabeça. :)
Boa pergunta, luisa. Temo não ser muito isenta no que toca a apreciar as minhas filhas :-)
EliminarQuanto ao resto, muito obrigada. Isso que escreveste foi tão bonito. Também me fez sorrir a mim. :-)
Creio que portátil e telemóvel - pelo menos estes - entraram definitivamente na vida da maioria das pessoas. E acontece um pouco como com os livros: temos que nos obrigar a desligar. Ou a usá-los com moderação. A verdade é que, quem passa muita hora agarrado a eles está sozinho. Ou só meio acompanhado. O exterior faz falta: andar, correr, passear, conversar com alguém ao vivo e a cores. Os outros, em carne e osso, com seus defeitos e feitios, pertencem, entrosam na nossa humanidade. Na net somos todos um tanto parecidos. Mais palavra menos palavra. E corremos o risco de nos sentirmos mais próximos de quem escreve melhor. A diversidade presencial é tão outra coisa...
ResponderEliminarAinda assim gosto de vir aqui. Há várias coisas a fazer por nós e que excluem o uso da tecnologia. Não só ao jantar:))
BFS
Ó bea, estes seus comentários davam posts tão bons. Na net somos todos um bocado parecidos é que eu acho que não, até acho as pessoas muito mais parecidas umas com as outras quando as vejo na rua, no centro comercial, dentro do avião, no aeroporto, estou sempre a observar toda a gente porque ando quase sempre sozinha. Bem, eu quando digo "na net" refiro-me aos blogues, que é a realidade nética (e esta palavra, hein?) onde há revelação de almas que eu conheço melhor. :-)
EliminarEu também gosto muito muito que venha aqui e estou agora a reparar que não tenho o rosto imóvel enquanto lhe escrevo isto, está com um sorriso o meu rosto :-)
Leu aquela história que o Rentes de Carvalho contou no blogue dele em tempos sobre um assaltante de arma em punho que entra num elétrico em Amesterdão para assaltar passageiros, mas não havia ninguém a prestar-lhe atenção, estavam todos entretidos nos seus ecrãs? Neste caso deu um jeitão aos passageiros, digo eu. O assaltante teve de dizer que "ei! estou aqui! alguém me dá atenção, para eu poder assaltar, se faz favor?"
Um bom domingo, bea. :-)
sim, sim, li.
EliminarBom domingo também para si, Susana:)
Desculpa-me Susana, mas não li o artigo ainda, causa que se deve ao meu cansaço. Lerei com atenção, apesar de não ser, e não prevejo que o seja, pelo rumo dos meus interesses, pai.
ResponderEliminarMas tudo, nas conclusões, me parece mais do que razoável, de um ponto de vista comportamental, mais do que psicológico (porque, no fundo, ler um livro, em silêncio, no sofá, vai dar ao mesmo mortiço esgar de feições, ainda que o livro desperte emoções).
É, enfim, como aquela frase do senhor Nite: se olhas para o abismo, o abismo olha para ti. Agora não são abismos existenciais (ninguém, já, tem razão para sofrer com a existência, tão abundante de ecrãs distrativos): são pétreos «instantes» a formar as mesmas estátuas.
Amigo Diogo, isso de pedir desculpa é que não é preciso. Nem eu presumo que os meus queridos leitores vão ler o artigo, ponho o link para documentar o que estou a dizer. :-) (mas é pequeno, lê-se depressa)
EliminarMuito interessante esse paralelismo com a leitura do livro. Eu sempre achei bonitas as pessoas quando estão concentradas a ler. E de facto com o rosto sério. Mas parece-me que há diferenças entre uns rostos (com livro) e outros (com ecrãs). Talvez se deva ao facto de a leitura de um livro ser mais profunda e requerer mais concentração do que o olhar para um ecrã com postagens, likes, fotografias, coisas superficiais. Será? (estou a pensar agora nisto pela primeira vez)
Como disse a bea ali em cima, os ecrãs fazem apenas "meia companhia", e aí talvez o existencialismo tenha mesmo de se revoltar e prantar-se à nossa frente, qual espelho (ou abismo?) que nos olha e nos interroga.
E que expressão, essa tua: "são pétreos «instantes» a formar as mesmas estátuas." Sim senhor!
:)
Eliminarnem sei o que dizer... mais de nove horas por dia quando o dia só tem vinte e quatro, que rico exemplo...
ResponderEliminarE ao que parece oito das quais em assuntos extra trabalho. Às vezes penso se não andaremos todos muito sós neste mundo a precisar de muita companhia via ecrãs...
EliminarJá eu sou impossível! Rio, sorrio, franzo o sobrolho, choro... Sou toda expressão! Até gostava de ser um bocadinho menos! :)
ResponderEliminarEsse menino sabe!!! :)
Beijos repenicados, Susana :)
Acredito, até daqui se vê bem a tua expressão. :-) É uma expressão muito bonita.
EliminarFiquei admirada de haver um menino com uma destas idades tão tenras que sabe ver sorrir com os olhos.
Beijinhos de volta, Maria. :-)