a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

13/07/2017

Não temos apps para isto

Aborrece-me de cozer o bacalhau. Mas apanho-me sozinha a jantar, que é muitas vezes que me apanho, e vai de cozer uma posta de bacalhau do salgado e depois dessalgado (não se percebe lá muito bem, mas é assim que se faz ao bicho) que só eu é que gosto de o comer cá em casa. Então de cada vez que me deito a cozer uma posta deste belo fruto do mar com uma batata no tacho ao lado, temos o caldo entornado (não o da batata). Temos porque ponho a posta na água, dentro do tacho, ligo o fogão e depois opto: ou espero um tempão ali em pé a contemplar o bacalhau aquecendo-se todo despacito e a aborrecer-me que nunca mais acaba, ou, boa ideia, vou-me embora sem observar o processo, otimista género vou-mas-é-estender-a-roupa-e-já-cá-venho-seu-maroto, mas a roupa é mais que a conta, e o caldo entorna sempre, o do bacalhau, evidentemente, sempre. No seguimento, vem o fogão para limpar da água peganhenta e malcheirosa, não adoro lá muito. Nem adoro lá muito, nem há apps para isto não sei porquê. Se fosse ao almoço, ainda me punha à janela enquanto vigiava a fervura da água, engendrando modos de ver o papagaio que segue entretendo o bairro com a sua palração ininterrupta o dia in-tei-ro e eu continuo querendo ir arrancar-lhe uma pena das verdes para castigo, que ele doutras não arranja, só que isto do bacalhau dá-se mais ao jantar. A essa hora está o papagaio recolhido dentro do quiosque das flores, fechado à chave, caladinho que nem um rato, sozinho no meio das rosas, gladíolos, gerbérias de várias cores, vendem-se muito bem, margaridas, agora também em azul, petúnias nesta altura do ano e coroas imperiais. Mas coroas imperiais não tenho a certeza.

14 comentários:

  1. Podiam vender as postas já cozidas e embaladas, não era?
    Os posts de bacalhau são muito melhores que as postas; nunca entornam. :)
    Boa noite para ti.

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    1. Podiam, pois podiam, claro que podiam.
      (mas depois, enfim, lá se ia o mote para um post...)
      :-)
      E para ti um dia bom, minha querida Teresa.

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  2. Adenda à história do bacalhau cozido: a mim apaga-me o fogão, o palerma; parece que está à espera que vire costas para aquele sinal de que não cabe na panela. Mas gostei do seu post de bacalhau. E até me deu certa fome, estou é a hesitar se hei-de eu uma senhora tão compostinha e bem comportada ir para a cozinha em trajes menores e por-me a insinuar pelo frigorífico a estas bonitas horas. Por mim, tomava já mesmo o pequeno almoço, mas ora esta que talvez seja cedo, e é que me apetece mesmo. Ora bolas. Vou pensar no assunto.

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    1. Ah, bea, apagar o fogão ainda é pior (o meu é elétrico por isso continua continua continua).

      E o pequeno almoço tão cedinho, que tal, sempre saiu? :-)

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    2. Não:). Preferi umas voltas na cama, ler, levantar-deitar e assim.

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    3. (e será que posso saber o que anda a ler a bea? :-))

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  3. Esse fogão não tem temporizador (esta app já é antiga)?

    Uma bimby também nos liberta muito desse tempo inglório a acautelar acidentes, todos pasmados a olhar para o bacalhau, quando não para os grelos, para podermos dedicar-nos a tarefas muito mais prazerosas e, quiçá, fogosas aos intelectos, quero dizer, elevadas.

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    1. Sei lá, eu acho que tem, mas não tenho paciência para aprender a temporizar com o fogão. Podia com o meu lindo telefone esperto, e agora que lembras.... quem sabe next time. (tenho é que acertar com o tempo que escolho...)

      Bimby: na família, na minha própria família, sou gozada por não querer a Bimby, - mas eu embirro com tralha... nunca usei a máquina de fazer gelados que me foi oferecida e ocupa metade de um armário desde 2002... está nova.
      Mas lembraste isso dos intelectos... hum, às tantas, um dia destes ainda repenso a minha posição, mas primeiro ponho a máquina dos gelados na alheta.
      :-)

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  4. Susana, sou chato nas coisas da cozinha :)
    Portanto:

    Cozer bacalhau parece ser muito simples. É algo que se aprende desde cedo na cozinha. No entanto, poderá estar a fazê-lo da forma errada. Se, ao cozer o bacalhau, costuma deixar a água ferver com as postas lá dentro (quantas vezes foi a correr para baixar o lume chegando tarde demais, com metade da água já a inundar o fogão?), saiba que essa não é a melhor forma de o cozer.

    O bacalhau gosta de cozer em lume baixo, a uma temperatura constante. Só assim a carne mantém o sabor e se separa em lascas suculentas que todos adoramos (e ansiamos).

    Queremos que, lá em casa, o bacalhau saia na perfeição. Por isso perguntámos ao chef Vítor Esteves qual a melhor forma de cozer bacalhau.

    O chef não hesitou em revelar-nos um truque simples, mas que faz toda a diferença: não levar o bacalhau ao lume. O truque é simples: ir deitando água a ferver por cima das postas, tapar o tacho e deixar assim durante meia-hora. O calor e o vapor irão cozinhar o bacalhau de forma lenta, distribuindo-se igualmente por todas as fibras do peixe, garantido a manutenção de todo o sabor.

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    1. Caro Miguel, esse é um senhor comentário! Muito obrigada. Já tomei nota e vou experimentar quando tornar a cozer bacalhau.

      Mas só fui a correr uma vez para o fogão, da primeira em que a água entornou e fez o barulho que conheço de longa data, fssssss. Depois baixo a potência de cozedura e a coisa mantém-se calminha até ao fim.
      (e bolas, que até me está a dar fome)
      :-)

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    2. Confesso que nem me dei ao trabalho de escrever sobre cozer bacalhaus, até porque o que não falta é sites e vídeos, estás notas estavam salvo erro no site do pingo doce, não me recordo.

      Ah um homem na cozinha faz muita falta ;)

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    3. Totalmente verdade, Miguel, um homem faz muita falta, na cozinha e em todo o lugar. Ponto. :-)

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  5. O que eu gosto mesmo, mesmo Susana é de comer o bacalhau cru, assim mesmo, nos píncaros do sal, às lasquinhas pequeninas, como fazia a minha mãe.
    Se me distraio nessa tarefa, sou capaz de comer 2 postas...
    Não sei o que será de mim, mas temo muito pelo meu coração.
    'Oh bacalhau salgado, quanto do teu sal está nos corações de Portugal!'

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    1. Ui, valente. Comer assim o bacalhau nunca me pus a fazer. E dado que já não vou para nova, o melhor é não tentar. Não vá de repente gostar.
      :-)
      Mas agora devia aconselhar-te a não repetir muitas vezes a proeza das duas postas, querida Uva - já experimentaste bacalhau fresco? é tão bom (cozinhado).

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