a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

15/08/2017

Um bocado esquisito este post

Havia pousado em Lisboa há poucas horas quando torno a sair de casa lançando-me na rua a pé ignorando o carro na garagem numa continuação já de muitos dias sem se mexer, quero crer. Nem sequer o vou visitar, a garagem é um lugar tão feio. Há estes momentos em que me chega um rasgo de vontade de não ter carro nenhum. Vou assim nesta filosofia descartável à primeira necessidade, evidentemente, pelo meio do agosto macio e quentinho, quase deserto, e vou com os pés a escorregar nas sandálias que me estão um pedaço largas mas foram caríssimas e são mesmo lindas. Já sabemos que sapato de mulher ou é lindo (e todo desconfortável, chegando mesmo a proporcionar o desconforto de nos atirar ao chão se for preciso) ou é um conforto muito doce mas parece sapato de homem, mesmo que cheio de purpurinas cor de rosa, que isso não interessa. Então vou assim pela rua a escorregar nas sandálias e a entreter-me com o meu telefone esperto, que anda todo queriduras comigo não sei porquê, mas tipo talvez para fazer pirraça ao carro lá sozinho no escuro e na companhia das caixas de caçar ratos. Hoje por exemplo recebo nele uma mensagem muito linda sobre uma promoção a começar amanhã numa espécie de loja e eu mesmo a precisar duma compra daquelas, ai jesus, logo eu que sou contra promoções por causa dos nervos que me dá tanto lixo informativo. Este post está um bocado esquisito, mas é posts destes que eu mais gosto de escrever, que engraçado. É que a gente andando no carro vê um pior nas pessoas, não vê? Eu mesmo a pé e a esforçar-me para continuar dentro das sandálias, vejo. E vejo um automobilista a irritar-se imenso, imenso, imenso com um taxista ali à frente porque este parou para largar duas passageiras que iam lá dentro e as senhoras já não eram assim tão novas. O automobilista naquele excesso de irritado pespega-se parado ao lado do taxista a largar gritos incompreensíveis (felizmente) e a seguir acelera para dentro do meu próprio bairro a uma velocidade para aí quase o dobro do limite indicado na tabuleta. Portanto pensei no âmbito da minha filosofia, ora cá está, ao volante a pessoa revela-se pior: este exemplar histérico quer regras para o taxista cumprir mas para ele próprio não é preciso nada disso, é primeiro parar na via a importunar enquanto larga a gritaria dele e segundo é acelerar para dentro do bairro feito autoestrada.

Terceiro e por falar em sapatos, tive esta boa ideia ainda dentro das sandálias: automobilistas dedicando-se muito a serem ridículos talvez lhes caia bem um tratamentozinho adequado do género do abaixo sugerido.

19 comentários:

  1. e que tal esse senhor nervoso vestido com as roupas da nancy... qual matrafona!

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  2. Os sapatos das mulheres são uma grande chatice, essa é que é essa. Mas pronto, é verdade, são bonitinhos, isso sim. E não podemos andar descalças.

    Há automobilistas que deviam antes de lhes (se) darem um volante para as mãos, ir tratar da maluquice que têm o nervoso destemperado e os outros é que pagam.

    Gostei da canção. É alegre. Parece-me que tais condutores não mereciam ser pisados por botinhas e pernas tão de jeito. Digo eu que gosto de botas a mais não poder. Por mim, era sempre inverno. Mas só nos pés:).
    O post está o máximo.

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    1. Acho que talvez falte alegria na vida desses condutores, que andam sempre zangados com o mundo. Uns passitos de botas por cima deles, assim despacito, pronto, talvez lhes desse uma outra visão das coisas. Esquecem-se que a vida é tão curta.
      Obrigada, bea. :-)

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    1. Ó Diogo, adorei o teu voicelog!
      Grande ideia. E grandes ideias.
      :-)

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    2. Obrigado Amiga. :)

      A ideia de fazer um voicelog surgiu muito natural. A única coisa que ouço no rádio são entrevistas ou podcasts. Antena 2 e 3 à cabeça. Depois também tenho uma app muito boa no telefone esperto :))) em que posso procurar podcasts por todo o mundo e ouvir. Também o faço. Gosto de ouvir uma voz a falar sobre si, sobre os outros, sem papel decorado nem filtro. Dessa orgânica e espontaneidade. Gosto mesmo muito. Vai daí, abre cá um «voicelog» no teu blogue, Diogo Almeida, em que vais falar sobre tudo o que apeteça falar e que não caiba num registo gráfico. 'Descidas íngremes de voz'.

      Susana, abre um voicelog, toda a gente na bloga deveria abrir um!, para nos tornarmos mais próximos e quentinhos uns dos outros, estamos todos curiosos acerca dessa voz (a tua) e do que ela nos terá para dizer/transmitir. :)

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  4. Concordo, Diogo. As peças de voz saem muito mais espontâneas e portanto genuínas, puras, até nas suas inflexões ou "descidas íngremes de voz". O que valoriza tanto o teu voicepost, na minha opinião, é precisamente a espontaneidade e o conteúdo ter saído tão - como dizer - intenso, verdadeiro, puro.
    Fazer rádio deve ser, portanto, coisa para te assentar bem. Já pensaste nisso?
    Na Antena 2 há lá um locutor que me irrita um bocado porque quando faz as entrevistas aos seus convidados, não os deixa falar, está sempre a interromper e a querer acabar ou começar as respostas deles, como se eles não fossem capazes de preencher os minutos que dura aquilo.
    Eu um voiceblog não vou fazer, que não me sairia espontâneo nem de interesse, fico-me por ouvir o teu e deixar-te aqui a única peça deste blogue em que falei (ou uma das únicas), muita gente falou nesta altura, foi um momento mesmo bonito da chamada blogosfera:
    http://avozasolta.blogspot.pt/2016/07/movimento-queremos-ouvir-os-bloggers.html

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    1. Peca por pouco, esse link/vídeo com a voz da Susana. Linda. Imaginava-a mais grave, não sei porquê mas temos a tendência para imaginar as pessoas por tudo e por nada, mas é de um agudo especial e bonito. Lembro-me dessa corrente agora, sim, ainda não eras minha amiga, e de ter ouvido uns poucos (até fiquei grudado na voz da Cuca, a Pirata, que é, lembro bem, sensual).

      A Rádio? Em Portugal, tirando as duas ou três excepções, é muito má. Também não tenho esse fascínio da rádio, como disse, só ouço podcasts/entrevistas que me surgem interessantes ou à volta de assuntos relevantes para mim. De resto, desligado é melhor - risos. Tenho um fascínio pela voz, como instrumento, seja em música, seja a ler o Anna Karenina de uma ponta a outra.

      Ai, ai, ai! Então Susana? Dizes sempre que não tens jeito para isto ou para aquilo, mas depois deixas mostras do contrário (como no link da corrente poética). Ai, ai, ai!

      Mas, cada um faz o que lhe apetece neste pseudo-anarquismo individualista a que chamamos democracia, mas penso em criar um Manifesto pelo voicelog! Tenho é de ganhar subscritores para a causa.

      :)

      No tempo dos gregos é que não havia gravadores de som nem internet nem cinema/vídeo, pois senão eles descobririam matéria extraordinária para reflexão e criatividade.

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    2. Como dizia Camões, "Fazei o que mais souberdes". :-)

      E olha que o voicelog é capaz de ser bem o futuro dos blogues, parece que já estou a ver, as pessoas a ouvirem os podcasts dos seus blogues favoritos enquanto já não bocejam no trânsito. Continua, Diogo, continua.

      Os gregos tinham limitações de suportes lógicos e físicos, é verdade que tinham, mas usaram a cabeça e tão bem a usaram que conseguiram perpetuar os seus pensadores. Coisa que já nós... sei não. :-)

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  5. Minha querida Susana, boa noite, assim um abraço que eu gosto muito de aqui vir, o problema é quando me surgem problemas e nem tempo nem ânimo, mas agora que estou um pouco melhor, melhor , assim pró bom, tudo aqui hoje me foi precioso: considerações sobre calçado, motoristas e carros abandonados, garagens "malqueridas", e ainda a ideia do voice blog...tivesse eu uma voz assim pró jeitoso, também alinhava.
    numa coisa que alinho muito, é assim sapatos pró bonito, pró giros, daqueles que nos deixam sem voz.mas tudo o resto do post, achei muito apropriado. li-o à mesma velocidade que as senhoras saíram do taxi, e não irritei ninguém. o encadeamento da minha declaração comentada, está bem, não está? falaram em sapatos...pronto! fiquei logo baralhada! :))
    beijinhos e um bom resto de semana,
    Mia

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    1. Minha querida Mia, e eu gosto tanto que cá venhas e ainda gosto mais de saber que a nuvem negra que pairou por aí já se afastou.
      Tu podias fazer a versão voice blog no sofá e nem precisava de ser cinzento, que as cores não se ouvem! :-)
      O encadeamento da tua declaração comentada está luminoso, bom de se ler, aliás como sempre, querida Mia.
      Beijinhos e boa continuação de semana para ti também.

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  6. Do que a Susana se foi lembrar...
    [eu, um ano depois desse desafio, ainda estou para perceber o que terá Palmier Encoberto "visto" no pequenino poema áudio que lhe foi enviado -costumava ler à minha filha quando bebé na hora de dormir - com música de fundo de um móbile de bebé - para o ter publicado com foto retirada da net(?) e ao seu gosto particular, tendo a sua escolha recaído em Danaë (Klimt)]
    Boa noite e Boa semana, Susana.

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    1. Olá Té, na verdade foi dom Diogo ali em cima que me lembrou desse momento bonito que aqui fizemos o ano passado. Gostei muito.
      Mais uma ideia lançada pela nossa inspiradora Palmier.
      E um bom resto de semana, Té.

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  7. Utilizar uma gravação áudio de um poema simples para uma criança, de mãe para filha, e manipular e colocar um rótulo é tudo menos um momento bonito.
    [lembrar que o meu blogue, criado em 2009, é um baby blog. essa coisa horrorosa...um baby blog!...onde já se viu!?...que horror!...que falta de gosto!...como é que alguém pode achar que tem liberdade para isso: ter um caderno digital de apontamentos, um baby blog. imperdoável.]

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    1. Não sei a que se refere, Té. Nunca assisti a atitudes como a que refere por parte da Palmier.

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    2. Tem razão a Susana "Nunca assisti a atitudes como a que refere por parte da Palmier" e acrescento eu; nem por parte de Palmier nem por parte da Susana nem de outras pessoas em relação a outras pessoas...que isto já se sabe é tudo gente do bem. Tudo gente amiga que sabe viver em sociedade, tudo pessoas respeitáveis, que conhecem bem os limites, pessoas de bom senso.

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  8. Que belo retrato de Anton, decerto pessoa de excepção :)

    ____
    (permito-me discordar da importância da passagem da roupa a ferro, que mui raramente pratico, mas sabendo da importância - maior ainda - que é respeitar a diferença, aparente que seja: Anton, António, por exemplo, such beauty of sounds :)

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    1. Oh sim, Anton é pessoa de exceção.

      Mas tu também és, alex, nem preciso de ver esse teu amachucado de roupa :-) such beauty of soul, I would say.

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