a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

15/09/2017

Busca-polos

A loja chinesa que está implantada aqui no bairro tem absolutamente tudo. Atenção que sempre que lhe fui desafiar as referências do inventário, a loja ganhou: a ver se tem este tamanho de parafusos muito específico, ou agora esta lampadazinha LED de uma cor razoável que não tipo a duma câmara frigorífica industrial, ou ainda um cabo de esfregona com rosca na ponta em vez de ser de encaixe – tinha. E pauzinhos de cheiro, agrafadores, jarrinhos de vinho, temporizadores em forma de tomate mas também eletrónicos, candeeiros, alguidares para a roupa feitos em Portugal, sim, sim, em Portugal, e papel para a impressora em resmas de cem folhas. Tem pijamas, caixas de óculos, meias, meias são imensas, pilhas de todos os tamanhos e chaves busca-polos, há tanto tempo que eu não escrevia chaves busca-polos, a loja tem tudo. Hoje fui lá e noto em mim que gosto de ir lá. Em primeiro lugar, já não cheira tanto. Aquele cheiro comum a todas as lojas chinesas que deve ser dos químicos mal curados, trazendo as moléculas ainda retorcidas como se não tivessem tido tempo de se rearrumar na matriz a que pertencem, isso já não tem. O melhoramento no cheiro dever-se-á talvez aos alguidares feitos em Portugal (ou posso ter achinesado eu). Trouxe um cor-de-laranja com peixinhos em baixo relevo do lado de fora, muito adequado o alguidar e nem era preciso os peixinhos.
Em segundo lugar, o filho mais novo dos donos da loja costuma lá estar. Mas hoje não o vi.
- Não está o pequenino? – perguntei à dona (o filho mais velho estava metido dentro do seu telemóvel a um canto, com o bigode imberbe a querer crescer-lhe ali mesmo junto aos chinelos de quarto pendurados, há de todas as cores).
- Já tem escola - diz a mãe num português achinesado.
- Em que ano está ele? – pergunto.
- Quatlo… ai não sei dizer. – e ri-se um bocadinho.
- Quarto? - experimentei.

Enquanto fechava a gaveta de onde tirou o troco para me dar, confirmou, qualto, sim.

(se esta família estivesse no seu país de origem, talvez este menino com quem às vezes converso não tivesse tido a chance de vir ao mundo)

25 comentários:

  1. Respostas
    1. A bea nunca foi a uma loja chinesa?
      :-)
      Não é que tenha perdido grande coisa, mas sempre é melhor do que ir ao CC Vasco da Gama, por exemplo.

      Eliminar
    2. Ainda não consegui perceber se a Susana é racista, xenófoba...
      Em relação ao laranja, à cor laranja, é clara a sua tendência.
      Votos de bom fim-de-semana.

      Eliminar
    3. A Té tem certa graça por partir do princípio que as pessoas são sempre uma porcaria.

      Obrigada e bom fim-de-semana para si também.

      Eliminar
    4. Susana, a Susana não me conhece de lado nenhum, garanto-lhe, para que fique mais elucidada, que não tenho, nem pretendo ter, gracinha nenhuma - nunca tive jeito para humorista. Princípio, errado.

      Eliminar
  2. Confesso que gosto de ir a uma loja chinesa. Mesmo que não compre nada acho graça à quantidade de coisas que lá existem. Só não suporto o cheiro...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O cheiro, o cheiro! E é sempre o mesmo em todas, isso é que eu acho uma coisa digna de ser estudada. Será que é o cheiro da China, no geral?

      :-) Olá ana.

      (mas esta "minha" está melhor, já cheira muito menos)

      Eliminar
    2. Não é o cheiro da China. Já fui a Macau e Hong Kong e também à China propriamente dita e não existe este cheiro.

      Eliminar
    3. hum... então será de quê o cheiro?
      Sem dúvida interessante. :-)

      (mas ana o cheiro pior de todos para mim é o dos restaurantes McDonalds, tenho mesmo de passar ao largo)

      Eliminar
  3. Parabéns Susana, atrasadíssimos, passados tufões e bananas sem saco. Quantas verdades cabem neste texto, algumas delas absolutamente arrasadoras. Toma lá *quatlo* beijos.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ah, Teresa, para receber os parabéns nunca é tarde, obrigada! :-)

      O qualto caiu ao chão, dá cá outlo.

      (as verdades, pois é) :-)

      Eliminar
  4. o meu problema com as lojas dos chineses é que fico cheia de comichões, e depois são enormes, mesmo enormes, pelo menos as daqui, e eu não gosto desses espaços enormes, nem de hipermercados nem nada, e depois tem aquela coisa do tráfico de órgãos, que quando ando por aqueles corredores enormes e muitas vezes desertos, me vem sempre à cabeça...
    boa noite, Susana :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Compreendo-te, ana.
      Mas esta "minha" loja tem uma família lá dentro, 7 dias por semana até às 20h00 non-stop. Sempre sorridentes, cordiais. Os meninos às vezes fazem os trabalhos de casa na loja. Parecem felizes, sabes?
      E agrada-me pertencer a um país que sabe acolher quem vem por bem e trabalha.
      Agora... que é estranha aquela gritante falta de qualidade dos produtos, isso é.
      boa noite, ana :-)

      Eliminar
    2. na sexta-feira vi chegar a casa, um casal de chineses com a filha. eram novos, os pais e a filha. a mãe carregava a mochila da menina, o pai dava-lhe a mão. riam-se enquanto se dirigiam à porta e a menina saltitava à volta deles.
      imaginei a vida que teriam tido, para iniciarem outra, tão longe dos seus.
      também me pareceram felizes, e corajosos :)
      bom resto de domingo, Susana

      Eliminar
    3. penso isso, precisamente: estão tão longe dos seus.

      bom resto de semana, ana :-)

      Eliminar
  5. Julgo que o cheiro das lojas chinesas vem dos artigos meio plastificados que vendem. Por outro lado também me parece que não sofrem os chineses do mal alentejano ou seja da mania da limpeza e desinfecção, o que até dá jeito que nem sei como conseguiriam virar tanto artigo do avesso, ainda se matavam a trabalhar e não aproveitava a personne.
    Sim, eu conheço lojas chinesas e por vezes até compro; referia-me a uma em particular. Mas é verdade que também me causam alguma comichão: Lá está, há-de ser de não virarem o material do avesso, não avançarem as vassouras e esfregonas até ao mais recôndito, não passarem a pente fino o todo da mercadoria:). Mas têm artigos inéditos e até meio risíveis. Isso sim.
    E BFS

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Mas bea, eu até acho bem que até certo ponto os chineses não sofram do "mal" dos alentejanos querendo limpar tudo. Se sofressem, havia o planeta de estar muito mais contaminado com químicos.
      Mas claro que esses produtos inéditos são cómicos. Lá isso são.
      Bom fim de semana para si também. :-)

      Eliminar
  6. Sobre lojas de chineses, o que me lembrei assim de repente, foi que numa, uma vez, encontrei agendas de anos passados... :D

    Ana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ora aí está um artigo que não se encontra em mais lado nenhum! :-)

      E sempre demonstra uma boa dose de otimismo por parte dos donos da loja, isso demonstra!

      Olá Ana, bem-vinda :-)

      Eliminar
  7. (uma vez mais comento porque me recordei de algo... começa a ser uma monotonia minha!)

    ora busca-pólos é sem dúvida uma palavra que me faz sorrir, resquícios do dia em que em criança desenrosquei uma lâmpada coloquei um busca-pólos num casquilho e a seguir experimentei acender o candeeiro... resultado final um estrondo, o quadro electrico deitado a baixo e um sorriso matreiro de "ups"... mas a certeza que por instantes vi o hipnotizante filamento a brilhar!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. (e ainda bem que comenta, il, os seus comentários são muito bem-vindos) :-)

      ai... coitadinho do busca-polos :-)
      (e felizmente estava a segurá-lo pelo cabo de plástico, suponho...)

      Eliminar
  8. =)
    sempre 100% seguro!
    era uma criança bastante ciente dos perigos!

    ResponderEliminar
  9. Realmente as lojas dos chineses têm um cheiro característico, nunca tinha reparado...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Olá Extraterrestre, bem-vinda :-)
      Eu acho que também só reparei à n-ésima vez em que entrei numa.

      Eliminar