Então ela falou no verde, a sua cor favorita. Juntou-lhe, ao
verde, ao seu verde, um conceito dadaísta de joia, de criação. Um conceito,
frisa. Há infinitos conceitos de joia, basta perguntar qual é o teu. O que diz
a tua joia de ti? Neste seu trabalho, e dos seus colegas, os jovens artistas não vão
criar. Desta vez vão contar a história que uma sua joia encerra. A meu pedido
leu em voz alta os textos que trazia, uma compilação de doze artistas em
formação, entre eles, ela. Fazia pausas perguntando se me estava a maçar, ou se
devia continuar. A minha filha, sua amiga desde a infância, responde por mim:
continua, a minha mãe está a adorar.
Quando Talissa acaba de ler, está formada na minha mente
aquela que deve então ser a minha joia favorita. Não a uso há muito
tempo. Por isso, enquanto os legumes ainda se aconchegam uns nos outros nos calores da wok,
a minha filha a dar conta das almôndegas e da massa para o nosso almoço, corri
ao quarto. Abri a caixa de metal e de lá retirei o comprido colar de contas de
vidro que herdei da minha avó. As faces planas das contas refletem inúmeras cores
que se veem melhor erguendo o colar à luz da janela. Olhá-las faz arder um
bocadinho os olhos e ao mesmo tempo hipnotiza um pouco. Depois, reparei num outro
colar na caixa. Tem contas verdes, maiores que as de vidro. Cada conta está retida
numa larga malha metálica. Nunca o usei: o verde não é para mim. Regressei à
cozinha com os dois colares nas mãos. Primeiro apresentei-lhe o de contas de
vidro. Vês Talissa, o teu trabalho e dos teus colegas acordou esta joia na minha mente, talvez
seja então a minha favorita. Ela riu-se e depois ficámos em silêncio a olhar o
colar deixando-nos hipnotizar um pouco. A seguir, com muito jeitinho, abri o
colar das contas verdes, gostas deste? Gosto muito! Expliquei-lhe que ele nunca
tinha saído da caixa. E que para lá vai voltar e ficar uma vez que não uso verde.
Que triste destino para um colar de contas retidas em malha, não te parece
Talissa? Então, depois de argumentar muito bem, fazendo-a imaginar o colar servindo
apenas para sempre de companhia, dentro da caixa, ao de contas de vidro, à
pregadeira em vermelho, à medalha de madrepérola que a minha mãe trouxe
há muito tempo de uma viagem, então consegui convencê-la a fazê-lo seu. Ficou feliz, eu também e as contas verdes quem sabe. Quem sabe o que vão, por ela, com ela, contar.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarVerde também não é a minha cor.
EliminarA minha jóia o que poderá dizer de mim não será nada de bom...
Um anel em ouro de duas cores, com dois diamantes, prenda dos meus pais pelos 18...
Perdia no comboio há cerca de 7 anos... Escusado será dizer que não apareceu e que a sua perda continua atravessada na minha garganta...
Ah, Mafalda... se houvesse milagres, a pessoa que encontrou o teu anel havia de ler este post, este teu comentário e devolvia-to.
EliminarComo não há milagres, ou há mas, digamos, são pouquíssimos, é mesmo uma pena que o tenhas perdido.
Que tenhas uma boa semana, quem sabes encontrarás algo de muito bom. Às vezes acontece. :-)
:) depois de muito sorrir à tua prosa, confesso te que o verde musgo é a minha cor, a que me veste bem, a dos olhos quando choro, a que esta escrita nas estrelas. Ha um verde petróleo logo a seguir.
ResponderEliminarE pronto, é só isso :) beijos e abraços.
Querida flor, nem precisavas de dizer... uma flor nasce no verde, vive com o verde como pano de fundo, não é? :-)
EliminarAlguns tons de verde eu também gosto - ou seja, quer dizer, vamos lá que eu também sou uma espécie de flor :-).
E com esta modéstia toda à flor da pele (olha!), retribuo os beijos e os abraços e acrescento-lhes os votos de uma semana verdinha, boa, feliz.
Voltei para contar-te isto. Vou contar-te da joia que andou hoje comigo.
ResponderEliminarNuma daquelas caixas que têm música e uma bailarina que rodopia, e eu pequenina ali a dar corda, a dar corda, e depois encantada a ouvir a musica e a ver a bailarina rodopiar, numa das cavidades, ao lado do pequeno palco da bailarina, estavam uns brincos que achei os mais bonitos que alguma vez tinha visto, mesmo lindos. Já crescida, usei-os pela primeira vez, e as pessoas, ai que lindos esses brincos, são tão lindos, confirmava-se, portanto, a lindeza dos brincos. Nesta altura, já estava eu na posse da informação relativamente à proveniência destes brincos, a minha avó tinha comprado uma farinha e a farinha trazia este brinde ...
Esta história é tal qual assim e estes continuam a ser os meus brincos preferidos, um brinde de uma farinha. Não os uso muito, são de mola, e iria ficar mesmo cheia de pena se os perdesse ou se se estragassem, mas hoje foram comigo ver o Peter Rabbit. (O que dirá tudo isto de mim, senhores)
Boa semana, Susana.
Que história tão bonita, Cláudia. Muito obrigada por a teres contado.
EliminarO Peter Rabbit?!... E ele gostou?
ok, ok, é que eu não sei quem é o Peter Rabbit...
Boa semana para ti também. :-)
Olha, fizeste-me rir, que já cheguei aqui a rir desde, "(mas sem a mochila às costas, não trazias a mochila)"...
EliminarO Peter Rabbit é um coelho criado por Beatrix Potter, uma
personagem de histórias infantis, agora, em versão cinematográfica. Então, os brincos foram ao cinema ver o Peter. Se ele gostou? Se tivesse oportunidade de ver a quantidade de crianças e de adultos que ali estavam a divertir-se e "a sofrer" com as suas peripécias, acho que só podia gostar (e dos meus brincos também, quase de certeza) ;-)
Ah! Esse coelho conheço vagamente... E conheço mas melhor que vagamente uma senhora que é holandesa (e pintora) e que faz coleção desses livros do coelho da Beatrix Potter. O objetivo dela é ter um exemplar traduzido no maior número de línguas que conseguir. Veio um dia mostrar-me o exemplar que tem em português e que é o único que levou uma capa diferente, ela estava desiludida. (têm todos aquela capa que aposto que estás a conseguir imaginar, estás?)
EliminarSabes qual é o problema de tu não teres blogue? É a gente não poder ver uma foto dos brincos, esses teus lindos brincos.
:-)
E puxar pela imaginação, que faz tão bem, hum?... ;-)
Eliminar(Estou a conseguir imaginar a capa, estou, e a pensar, mas que maravilha de colecção essa senhora decidiu ter. Tão bom.)
Aproveito também para dizer-te que já li o teu último post e soube-me mesmo bem. E aquele "pá" fez-me lembrar aqui a Gina e tudo :-)
Fica bem, Susana.
Uma das melhores coisas dos blogues são estas conversas à laia de tertúlia virtual, de que gosto tanto. Obrigada, Cláudia.
Eliminar(ok, eu puxo pela imaginação - "colei-os" a uns brincos meus desaparecidos há muito, que eram muito lindos também para tu imaginares :-))
A Gina é inspiradora. É, também, muito criativa e admirável.
Que tenhas um bom dia de chuva e vento e, até, frio.
A primeira joia de que me lembrei foi uma pulseira de ouro que a minha mãe me ofereceu sem ser por ocasião em especial. Deu porque deu. Não é por isto que foi a primeira a aparecer na minha mente, é porque a perdi algures, enquanto passava uns dias de férias em Trás-os-Montes. Há de sempre ficar-me na lembrança. Depois, conto ainda da minha aliança de casamento, que não uso há para aí uns quatro ou cinco anos. Deixei de a usar porque sim, comecei por tomá-la como obrigação, sei lá. Presumo portanto que estas duas joias dizem que sou destrambelhada e desligada.
ResponderEliminarBoa semana, Susana.
Que pena teres perdido a pulseira. Porque será que há uma certa tendência para perdermos aquilo de que mais gostamos?...
EliminarMas portanto "destrambelhada e desligada". Excelente. Só isso?
(pá... Gina...)
:-)
EliminarHá coisas boas, também, cá por dentro, claro, mas em blogue que não é meu... Fico assim tipo esquisita de as enumerar.
Ahhhhhhhhhh melhorou!
Eliminar:-) e este blogue também é teu, 'tá?
:-)
Eliminar