Caminho pela sombra do prédio que me fica bem à direita de quem vai a descer. Levo o cuidado único de guardar largura de passeio do outro meu lado para quem quiser ir à vontade; não direi que vou cosida à parede mas é por poucos centímetros. Subitamente sinto um cheiro forte a roupa lavada. Um cheiro tão lindo a sábado de manhã como se a caminho de tomar um café e ler o jornal na esplanada ao sol a gente fosse. Um cheiro metidinho que me desacelerou o passo, que é de uma segunda feira, e me levantou a cabeça cheia deste parvo outono triste. Por cima de mim, nas cordas para o efeito, está uma velhota à janela estendendo roupa lavada de confirmação. Um lençol está sendo ajeitado, dependurando já bastante, as mãos que saem das mangas de um robe de chambre cor-de-rosa vigorosas na tarefa. Não ameaçada de levar com uma dobra de lençol molhado na cara, que para alguma coisa há de servir não ser altíssima, devolvo o olhar ao chão mesmo a tempo de bater os olhos numa fronha da mesma família deste lençol, muito caída, em baixo, bem aninhada no canto do prédio como se quisesse esconder-se por não saber trepar a parede de volta à janela de origem. Paro, então. Olho de novo para cima e digo à velhota que deixou cair uma fronha. Ela sorri-me toda experiente daquilo e confirma, deixei, eu sei. Não fosse a imposição vigente neste outono que já disse triste, e parvo, e eu seria pessoa de se oferecer para lhe levar a fronha caída a casa. Portanto, queridos, apetece-me dizer queridos, retomei o caminho sem nunca saber se a velhota descia à rua de robe de chambre cor-de-rosa vestido ou quê.
Ora muito bem. Gostei de ler!:)
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Flores que sublimam o olhar
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Beijos e uma excelente semana.
Muito obrigada pelas suas palavras, Cidália.
EliminarBoa continuação de semana!
Que bom é esse "cheiro tão lindo a sábado de manhã" capaz de destronar o "parvo outono triste".
ResponderEliminarSim, eu acho que a velhota há de ter descido de robe de chambre. :)
O sábado de manhã é aquele momento da semana em que parece que o mundo está ali a sorrir para nós, não é? :-)
EliminarEu também acho... até porque, pouco depois, quando fiz o caminho inverso, a fronha já lá não estava.
Acho que consegui cheirar esse cheiro a sábado de manhã.
ResponderEliminarQue texto tão bonito!
Obrigada, ana, que bom saber isso!
Eliminar:-)
Nunca saberemos se a velhota desceu à rua na sua “roupa de quarto”, mas o que sei é que este dia de outono ficou um bocadinho menos triste com o teu texto, querida Susana.
ResponderEliminarUm beijinho :)
Que saudades!
EliminarMinha querida Miss Smile, muito obrigada pelas tuas palavras.
O teu comentário também veio deitar uma luz mais bonita a este outono tão parvo.
Outro :-)
Quem sabe a fronha foi um sinal para a olhar para ela, reparar que existe:)
ResponderEliminar~CC~
É capaz. Ou então quereria a fronha dar mais uma voltinha na máquina de lavar. (depois de se ter estatelado no chão emporcalhado da rua, deve ter voltado ao programa de lavagem, digo eu)
EliminarOlá CC :-)