a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

05/08/2021

Alguns pontos

Achando já suficiente o tempo que passei em pé a fingir interesse pelos produtos da loja do aeroporto por não ter nem lugar sentado à vista nem nada melhor com que me entreter nem o telemóvel eu queria mais devido a já ter passado todos os limites de manuseamento por hoje cá para os meus gostos, já se punha aqui uma virgulazinha. Ponto. Para além deste ponto, pertinente, será de referir que quando tornei a perscrutar o espaço em busca de um assento sem fita a dizer que ali não por causa agora de repente não me lembro o quê, encontrei dois e consecutivos assentos vagos dos disponíveis (sem a tal fita proibitiva). Fui, pois, ocupar um. O outro ocupou-se ao mesmo tempo do traseiro de uma senhora visivelmente chateada por eu me ter depositado no primeiro. Inclinou-se então para mim toda expedita e disse numa espécie de francês que estava alguém com ela para vir ocupar o meu recém lugar e portanto eu que saísse. Eu disse-lhe que se a pessoa estava com ela podia sentar-se no lugar da fita do outro lado dela, não havia problema. A seguir a esse, ainda se contava uma cadeira livre mas a fazer a função Garantir Distância ponto PT. Portanto interdita. É uma confusão encaixar pares de pessoas em cadeiras uma sim uma não e por conseguinte dá-se estes desaguizados ainda que mornos.
Bem, a senhora francófona zangada comigo lá encolheu os ombros e, quando a sua companheira, suponho que filha, chegou, bem lhe ralhou, reclamou, e o meu lugar, não guardaste, nha nha nha, mas em francês. A já não zangada comigo senhora explicou à zangada filha a minha mensagem maravilhosa e esclarecedora. Tudo então se apaziguou. A outra sentou-se, portanto, na cadeira da fita proibitiva, mas sem infração neste caso, como já se percebeu, que eu gosto de explicar tudo direitinho. Então ficaram as duas francesas, lado a lado como queriam, totalmente dedicadas a dedilhar nos respetivos telefones móveis e eu a voz não mais lhes ouvi. 
Que lindo. 

2 comentários:

  1. Mais uns pontos, assim para um nós aqui à conversa, Susana;
    Pode utilizar-se, relativamente a essas duas pessoas, aquela expressão: "Tão perto e tão longe". Mas, ainda bem que estavam perto de ti, assim ficaram a saber uma coisa nova.
    Sabes, há palavras que me divertem, mas mesmo, uma delas é perscrutar. E, já agora, falecer, deveras e aziago, também (as coisas tecnológicas é que não gostam nada da palavra "aziago", assinalam logo a vermelho, também, pudera, é compreensível). Por isso, quando chegar a minha hora (outra expressão que acho maravilhosa), para aligeirar esse momento deveras aziago, não quero morrer, quero falecer.
    Que lindo, que lindo é, por exemplo, a tua resposta ao meu comentário anterior. E é mais lindo por nada disto ter que ver com qualquer troca de galhardetes mas sim com verdade.

    Boa tarde, Susana!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. As minhas respostas aos teus comentários, minha querida Cláudia, são sempre o resultado do efeito que aqueles, também eles assentes em verdade, eu sei, têm em mim.

      Não poucas vezes observo pessoas nervosas e mal-dispostas umas com as outras em viagem. Rabugentas, reclamando por tudo e por nada. É algo que detesto ver.

      Sobre falecer, desejo para ti o que desejo para mim: que ainda falte muitíssimo para lá chegar e que, em chegando, nada nos tenha ficado por viver 🙂

      Eliminar