Aquilo no aeroporto de Amesterdão, hoje de manhã e depois de tarde, perturbou-me. Serpenteámos milhares de pessoas pela geometria temporária que os insuficientes funcionários desenharam por forma a encaminhar o enorme fluxo de gente. Foram bem sucedidos, porque, na ausência de inúmeros colegas, conseguiram manter as linhas a coser a vida de um grande aeroporto e do verão, sem que houvesse quebras demasiado severas. Nós fizemos a nossa parte. Chegámos com três horas de antecedência, mantivemo-nos ordeiros obedecendo às múltiplas voltas da grande serpente e, por fim, arrumámos os tabuleiros utilizados para a bagagem regressada do túnel do raio X. Talvez até haja aqui um prenúncio de futuro de certo modo risonho para variar. Um futuro em que os passageiros tomam para si os rabinhos das tarefas de futuros ex-insuficientes funcionários.
Houve
um momento na longa fila, após uma das muitas mudanças de sentido no ziguezague
apertado, em que os meus olhos bateram nos de uma outra passageira, uma senhora com o rosto
sulcado de rugas, que circulava em sentido contrário ao meu no dorso da serpente. Sorri-lhe e ela devolveu-me
o sorriso. Procurei-a em voltas posteriores, mas não voltámos a encontrar-nos.
Depois, como não tinha nada que fazer, fiquei a pensar que aqueles que veem nos desconhecidos potenciais inimigos não estão totalmente ligados ao mundo. Não de um modo potencialmente harmonioso. Em Lisboa há muitos.
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