a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

05/06/2023

Um garfo!

Quando saí do cliente já passava um bocadinho das seis horas. Abri a porta do carro ao sol de junho, que aqueceu ali todo o ambiente por fora e por dentro, especialmente por dentro. O casaco foi despejado sobre o banco de trás o mais depressa possível, as mangas arregaçadas e as mãos metidas ao volante, claro, mas só depois de espetar o dedo no botão com o AC inscrito. Senti um alívio suave e estaladiço com pepitas de chocalhos de alegria pelo caminho de regresso. Não tanto pelo refrescar da envolvente como pelo sossegar de uma breve missão cumprida e alguns feriados no horizonte. Assaltou-me, ali ao quilómetro vinte e dois, uma vontade aguda de beber uma cerveja deliciosa agarrada a um livro acabadinho de comprar na feira. Mas musiquei o habitáculo com qualquer coisa nova respeitante a portas giratórias, uma oferta da Antena 1.

À noite virei-me para a televisão numa de já-que-aqui-chegámos e para encher com chouriços a paz habitual. Foi o suficiente para bater os olhos num anúncio de comida para gatos exibindo um prato com pedaços suculentos, cozinhados lentamente (disseram), em molho, e um garfo disposto ao lado do referido prato. Com certeza isto é capaz de serem se calhar ideias completamente espetaculares da inteligência artificial.

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