a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

18/03/2014

Cálculos extenuantes

Jantei à pressa para vir contar isto.

Estou que não me aguento de tão maravilhada comigo.

Comprei um saquinho de amêndoas torradas no supermercado do bairro onde moro. O saquinho tem a data de validade marcada com aquelas máquinas que os empregados dos supermercados dos bairros onde as pessoas moram seguram na mão e fazem tsc tsc e colam a etiqueta com a data impressa a sair por um dos lados e do outro lado vão devolvendo a fita que acomodou as etiquetas.

As amêndoas torradas não têm adição de sal ou de açúcar e portanto convêm a qualquer um independentemente do índice de massa corporal ou do nível de colesterol, o óleo de amêndoa diz que faz bem a muitas partes do corpo e a mim fez-me bem ao ego, já vou contar, que nem acabei de jantar como deve ser para isto.

Compro saquinhos de amêndoas torradas porque me lembram o meu avô João e isto tem que ser dito. Ele tinha sempre uma caixa oval de plástico muito brilhante e muito anterior à existência da Tupperware, com dois clips nas extremidades se é que uma oval tem extremidades, e dentro estavam as amêndoas torradas. A caixa vi-a sempre cheia e eu gostava de observar o meu avô enquanto ele trincava as amêndoas, aquilo via-se mesmo que lhe fazia gosto.

Mas as amêndoas são traiçoeiras, e é aqui que reside o busílis. A cada dez boas vem uma que faz trepar as paredes de horrível que é, que incentiva os olhos de quem a mastiga a darem uma volta ao bilhar grande em todas as direcções, que fazem libertar arrepios pelas costas abaixo, que lançam sacudidelas violentas aos pobres ombros já descaídos de dor e que deitam por terra todas as regras adquiridas da boa educação, enquanto a pessoa não cospe aquilo não se liberta da tortura. Eu teria preferido provar pastilha elástica de cinza de vulcão extinto ou assim.

Portanto o que me traz aqui é isto: descobri que estas amêndoas que são tão más quanto as outras são boas, consistem nem mais nem menos do que naquela entidade esquiva que ninguém nunca viu mas que se sabe que anda por aí, aquela coisa que apareceu no universo bebé, aquela matéria que, que é, que é...

...anti-matéria! As amêndoas que atacam o desgraçado que as mete na boca são as acabadas de denominar anti-amêndoas. São capazes de encerrar toda a anti-matéria do universo e fui eu quem descobriu! Daí este orgulho.

Ora entre a teoria da anti-amêndoa descrita acima e aquilo de uns cientistas terem captado a radiação de fundo do universo bebé, o som dos primeiros milionésimos de nano pico do milisegundo, aquilo que lhes custou imensos recursos em equipamentos caríssimos e cálculos extenuantes, para além de terem demorado treze vírgula oito mil milhões de anos a descobrir essa radiação que já devia estar cansada de avisar, estou aqui! estou aqui!, entre um e outro, um de nós há-de ganhar o Nobel.

E está-se mesmo a ver quem.

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