a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

26/03/2014

Esmagado até ao zero

Foi preciso pôr-me a ouvir uma música tirada das listas do Youtube, uma música de relaxamento em que se ouve água a cair em pedras equilibradas numa torre que se mantém estável devido à forma achatada das pedras e também, penso eu, devido à sua cor cinzento-rato com uma lista branca aqui e ali, cenário que encerra uma dose inegável de paz e quietude.

Dizia eu que foi preciso esta música de chuvinha acompanhada de teclares encantadores e algo repetitivos de piano, e está o meu cérebro preparado para um momento economicista, totalmente fora da área de estudo que segui há algumas décadas atrás (não muitas, poucas).

Sugere a Teodora Cardoso que havíamos de pagar impostos sobre os levantamentos bancários que fazemos, numa de incentivo à poupança. A Teodora Cardoso deve saber o que diz, é senhora de respeito, não agita o braço no ar enquanto fala nem grita nem se dá ares de agressiva nem nada, por isso não lhe viro as costas e fico a apreciar a seriedade das suas palavras.

Isto passa-se hoje pela manhã. Meia dúzia de raios de sol entram pela janela da minha cozinha, lá ao fundo vislumbro uma nesga de rio Tejo, observo os automóveis na rua lá em baixo, passam também dois homens a correr, isso é que eu admiro homens que correm e, enquanto faço o café e espero que o pão salte na torradeira, oiço as notícias.

A Teodora Cardoso (que nome, Teodora, que nome) apareceu já a torrada ia a meio. A sua ideia inovadora, como ela própria classificou, faz-me quedar suspensa com a torrada na mão e a boca aberta para ouvir melhor esta teoria enquanto aguardo a reacção, a minha, que não está aqui mais ninguém.

E a taxa? Se ao levantar o dinheiro pagamos um imposto, então extingue-se o iva com a ponta do sapato, esmagado até ao zero, é isso? Até podia parecer coisa a cair que nem ginjas não fora o iva ter vários escalões e nós estarmos já todos mesmo a ver que ah-e-tal-o-escalão-para-a-taxa-inovadora-é-o-de-cima, não é?

Ou seja, tenho cinco euros para comprar pão, leite, manteiga, laranjas e chega que o dinheiro acabou. Em vez de pagar os seis por cento do iva de hoje dos produtos que não podemos dispensar, não. Pago nada.

Pago nada porque paguei antes, no levantamento taxado. Paguei aquilo a que se havia de chamar taxa única, na onda do simplex, de, pensemos um pouco, vinte e três por cento, não é?! Não, deixe lá isso, Teodora, deixe lá isso.

Vai um cafézinho?

(o detalhe de abrir a boca para ouvir melhor que menciono acima não tem propriamente explicação científica, mas é autêntico, tanto como eu não me chamar Teodora Cardoso)

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