a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

10/06/2016

Dia de Portugal

“Houvera, de algum modo, um atrofiamento na idade mental de toda aquela gente que ainda fora educada para um padrão de vida cuja glória assentava num ofício promissor e num acrescentar sem fim de aparelhagens e mais assoalhadas para as conter. Mas, nos últimos tempos, viviam de subsídios e pequenas malícias, o que, ao longo dos meses, os emparvoecera, tornando-os temerosos e falhos em piedade, como se regressassem ao descuido da infância, quando se encontra sempre a comida na mesa e a mão do pai sobre a cabeça, a perdoar.”


Hélia Correia
Insânia
Relógio D'Água Editores, 1996

4 comentários:

  1. :-) Padece o nosso Portugal, de facto, ainda, de uma certa infantilização que se nota também tão bem, por exemplo, na forma como se desresponsabiliza e culpa sistematicamente terceiros pelos seus desaires. Quanto ao "falhos em piedade" conto-te que numa das minhas idas fora de portas umas quantas pessoas que não são portuguesas e que já viveram em várias zonas do mundo me disseram que nós portugueses somos dos povos com melhor coração, aqui para nós, não me custou nada a acreditar.
    Beijinhos, querida Susana. :-)

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    1. Como quase sempre, fazem-me os teus comentários pensar. Somos de facto um povo afável. Na generalidade, somos. Até mesmo, sim, de bom coração. No entanto, acho que isso deixa de ser verdade quando se lida com desconhecidos. Somos esquisitos com desconhecidos. Fechamos a cara, desconfiamos.
      Mas há belíssimas exceções, querida Cláudia. :-)
      Beijinhos de volta.

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