a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

04/06/2017

O pato

- Ó mãe, tu estás rija que nem um figo! – a mais velha.
- Não é um figo, não percebes nada, é rija que nem uma alface!… – a mais nova.

O almoço era um arroz de pato acabado em casa. O pato deu entrada já em pedaços longilíneos, cozinhados em parte incerta, e nem sequer veio o pato todo, mas adiante, que veio acompanhado de um robalo grande no outro saco com duas postas de garoupa muito boas, desta vez não havia pescada, couve-coração havia, tenho dificuldades em retirar uma couve-coração do expositor só com uma mão, a couve-coração caiu nas graças da mais nova, nas minhas já havia caído há muito, o pão, iogurtes dos brancos, morangos, e não sei se tem interesse continuar. Quase tudo material com seis por cento de iva, que eu tenho estas manias – quanto mais comprar a seis por cento de iva, menos processado é o que trago para casa e mais saudável e conceitos assim tipo (até eu me canso de mim às vezes). Mas portanto o pato já chegou em estado avançado de preparação, claro que nesta situação qual seis por cento qual quê, paciência, eu avanço e dou-lhe somente a volta final, o arroz. O almoço está pronto, chouriço nada que andamos em dietas (consideráveis).
Foi perante esta iguaria nos pratos e a minha ladainha sobre sentir-me cansada de não parar de trabalhar nem um diazinho há muitos seguidos, mas também feliz como nunca antes estive com trabalho nenhum, tão feliz que nem dá bem para acreditar, discurso que – à palavra cansada – desencadeou o diálogo acima exposto.

- Meus amores, diz-se “rija que nem um pero” e se quisermos alface é “fresca que nem uma alface”.
Mas continuo
- O figo vem no “chamei-lhe um figo” e ainda há a variante “caiu-me que nem ginjas”.

Quem souber mais é avançar, se fizesse favor, para ensinar às garotas da próxima vez, por exemplo frente ao robalo.

(com licença, só uma pergunta, ao ler-se ali em cima "O pato" deu ou não deu para ouvir de imediato aquela canção brasileira, "o pato, vinha cantando alegremente, quém quém", deu?)

18 comentários:

  1. Ah...não deu...mas para o robalo eu posso aparecer. Era um convite, pois era?...
    Bom domingo, Susana :)

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  2. Então... O robalo vai saber a pato!!

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  3. Conheço 'sã que nem um pero' para a rijeza das pessoas e 'sabe a pato' para quando toda e qualquer coisinha que se coma sabe extraordinariamente bem. Estranhamente, lembrei também a expressão 'entra a matar', que nada tem a ver com o teu post mas, considerando que os bichos que a gente come estão mortos, eis que.

    E não, eu não ouvi a canção.

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    1. Eu julgava que "saber a pato" era comer alguma coisa, qualquer coisa, paga por outrem. :-)

      Eis que entraste a matar, Gina, pronto.

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    2. Tens razão, é isso é, ou é mais isso, é que ouço a expressão em circunstâncias como as que referi.
      E 'é um figuinho' é algo facílimo de conseguir, algo que 'calha que nem ginjas', tipo assim 'eh pá, que oportunidade do caraças!'

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    3. Olha, nem de propósito: caraças é que não sei de onde vem!
      de onde será?
      :-)
      Boa semana, Gina. (não tenho visto os cadeados, mas também ando a falhar muitos vídeos...)

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  4. :) E ler-te é calhar com uma cereja no topo do bolo. :)

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  5. E saltar que nem uma castanha ? :) :) :)

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    1. Ai as saudades que este blogue tinha desta sua leitora querida!
      Tantas que ficou mesmo a saltar mas "maïz" que nem pipocas!
      (que sempre se contextualiza melhor aqui nos blogues, não é?)
      :-)

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  6. só sobre o final, pois no que toca à sabedoria ligada a patos, castanhas e cerejas, vê-se que está muito bem encaminhado. seguindo sem parar, por isso, estive hesitante aqui, neste entre vírgulas, mas lá me decidi, e acrescento que vir aqui à segunda -feira, e ler assim sem curvas e tudo em movimentos bem sincopados é "música para os meus ouvidos".
    beijinhos e boa semana, Susana.

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    1. Ufa, que honra, Mia.
      Muito obrigada.
      Uma ótima semana para ti também. :-)

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  7. Também me não lembrou o dito pato que canta em brasileiro e portanto não interessa, que em português é quá quá e pronto, nem parentes devem ser. Essas meninas são meninas, é por isso que alheiam de ditados populares. E talvez façam bem, que excepto para combinar conversa, ou por fazerem pendant em algumas situações e textos, não terão grande piada.
    É verdade, o seu post corre, deixa-nos quase com pena de quem tanto trabalha e depois se ajusta a ir ao super e repor faltas em casa e faz jantares e etc.
    Creio, porém, que corremos demais, nós. Porém, o quotidiano da maioria das mulheres é pior que assim. As mulheres fizeram por suas mãos a base do mundo que todos pisam sem lembrança de quem a estruturou para ser pisada e se aguentar ao balanço de tanto pé e patada. Acho que tenho devoção por essas artesãs da vida.

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    1. Eu penso que este tipo de dizeres populares se está a perder. Os meus avós diziam muito destas coisas e eu aprendi com eles. E com os meus pais também. Mas agora acho que se vai ouvindo menos.
      É verdade que muitas vezes temos de nos virar em três, já vi muitas mulheres assim, como diz, artesãs da vida, de uma vida bem dura por vezes. Essas nem devem saber o que são blogues.

      Que comentário maravilhoso aqui deixou, bea.

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  8. Ora bem...eu também não ouvi a cançoneta...
    Dizeres...
    persistência - água mole em pedra dura tanto dá (outros dizem "tanto bate) até que fura;
    falsas acusações - uns comem os figos e outros rebenta-se-lhes a boca;
    saber esperar - guardado está o bocado para quem o há-de comer;
    Inveja - a galinha da vizinha é sempre melhor do que a minha;
    independência - A rico não devas e a pobre não prometas;
    do nosso valor - Atrás de mim virá quem bom de mim fará;
    não dever a ninguém/ não depender de ninguém - Bem mal ceia quem come de mão alheia;
    Desgoverno - Casa onde não há pão, todos berram e ninguém tem razão;
    arrependimento - Casa roubada, trancas à porta;
    sempre atento - Com um olho no burro e o outro no cigano;
    cobiça - É como a Maria nabiça: tudo o que vê, tudo cobiça!;
    usa o que tens - Em tempo de guerra não se limpam armas;
    no entretanto... - Enquanto o pau vai e vem, folgam as costas;
    mentira - Mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo;
    tonteria - Muito riso, pouco siso;
    das nossas escolhas - Na cama que farás, nela te deitarás;
    procrastinação - Não deixes para amanhã o que podes fazer hoje;
    gastar antecipadamente - Não vendas a pele do urso antes de o matar; Não contes com o ovo no ... (isso) da galinha;
    ilusão - Nem tudo o que reluz é ouro;
    equilibrio - No meio é que está a virtude;
    lei de Talião/Justiça - Olho por olho, dente por dente;
    Caridade - Quem dá aos pobres empresta a Deus;
    Restrição - Quem diz o que quer, ouve o que não quer;
    e assim de repente não me lembro de mais nenhum...

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    1. Ufa, Sexinho, isto é uma aula de dizeres, que bom, muito obrigada! Vou instruir as cachopas (que até eu me instruí aqui em um ou dois da lista). :-)

      E que boa surpresa foi esta visita, bem-vinda :-)

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