a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

28/01/2018

Um bocejo (mas pode ser a primavera)

Vinha a pensar duas coisas ao mesmo tempo enquanto conduzia o carro. O céu estava daquele azul que dói, de lindo que é. Eu só me dá é vontade de olhar o céu e não tanto a autoestrada num caso destes. Nas laterais do asfalto, ainda por cima, pululavam florzinhas de um amarelo estonteante a puxar a vista pelo canto do olho com tanta força que caramba, não sei se é a primavera. A verdade é que se registaram as cores de hoje muito lindas. E fazem o piso alcatroado de um cinzento com laivos tão feio que não dá vontade de olhar para ele, aliás nenhuma vontade (deve ser por isso que algumas pessoas optam por olhar para o seu próprio telemóvel suponho que inteligente enquanto conduzem os carros um bocado aos ziguezagues). Mas a gente poucas vezes pode fazer aquilo que quer, por isso eu agora quero contar que vinha a pensar, por um lado, que passo demasiado tempo dentro do carro e estou a ficar completamente farta dele, por outro lado, ocorreu-me que sou uma pessoa sem glúten há uns vinte dias. E também sou sem lactose e ainda sem açúcar adicionado. No entanto sobre o açúcar não dou garantias (por causa da fruta). E isto para quê, mesmo, se faz favor? Para me livrar dos quilos que eu trazia a mais, dado que não preciso deles. De modo que devolvi já metade ao mundo, só falta o resto.

Tirando isto, o papagaio tem andado metidinho dentro do quiosque das flores. É por causa do frio, diz a dona. Ou seja, não tem havido nhéc nhéc a plenos pulmões no bairro. Não é bem nhéc nhéc, é tchalp tchalp teren tchalp, se estamos recordados. A dona do papagaio (e das flores) não gosta de mim, o que é natural. Eu vou lá só para ver o currupaco como quem não quer a coisa mas ela não é burra e já me topou. Para mais, há dias, fui lá com uma turminha de três sobrinhos dos mais pequenos que tenho e que vieram encantar esta tia durante uma manhã inteira, para mostrar o papagaio a eles. Não compro nada no quiosque porque não sou maluca de gastar balúrdios em flores quando as posso olhar na berma da autoestrada caso o amarelo estonteante me consiga arrancar os olhos do asfalto, certo?

4 comentários:

  1. Eu gostava - um bocadinho só, não muito, muito - de ter essa força de vontade da Susana. Mas tenho só uma vontade sem força. Paciência. O que haja a mais cá fica embora na verdade também não faça falta e nem me dê jeito renovar o guarda roupa por aperto de botões e uma incompatibilidade irresolúvel nos dois lados do fecho.
    Quanto às flores e à estrada, os campos nesta altura são muito bonitos e é melhor aproveitarmos a olhar agora que, com a falta chuva, na primavera é capaz de estar tudo seco como se fora fim de verão. A mim este azul do céu confrange, o meu borda de água de trazer por casa anuncia sol nos próximos 15 dias e enquanto as águas do Sena subiram a metro as nossas barragens desceram muito mais.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ah, bea, na verdade não está a custar nada - para minha admiração.

      Olhemos os campos e regozijemo-nos com a primavera - isso podemos fazer (e também podemos, claro, reduzir o uso do plástico, o uso de energia desnecessária, etc, essas coisas)

      Eliminar