a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

10/01/2019

O sorriso (bonito)

Vladimir, o cidadão russo que deixou a casa de banho nova toda bem-feitinha e agora começou nas pinturas das paredes e tetos, trabalhou com o afinco habitual, falou sozinho como também é habitual, ouviu a sua música bem baixinho para não incomodar (o habitual) e não sorriu o dia todo (idem). Mas esta parte de Vladimir não sorrir pura e simplesmente eu ainda não tinha informado (no blogue). Não sendo antipático de todo, o sorriso não aparece nem por nada no seu rosto eslavo, anguloso. Penso que para Vladimir trabalho é trabalho e sorrisos não são para aí chamados (ou o sentido do dever apuradíssimo). Despediu-se quando chegou a hora dele fazendo uso do também muito dele sotaque especial, até amanhã!

- Amanhã à mesma hora, Vladimir? Oito e meia? - isto eu, só para confirmar (na verdade seria às oito e vinte e oito).

Vladimir diz um sim arrastado demais para ser apenas do sotaque, e num modo hesitante. Creio que percebi a cena como diriam as minhas filhas. E por isso incentivei:

- Se quiser vir mais cedo, pode ser mais cedo.

Então aconteceu: abriu-se um sorriso no rosto já referido como eslavo e anguloso, composto com as pestanas ainda mais brancas por causa do alisamento que fez às paredes com lixa e portanto mais pó.

- Mais cede? - o sorriso iluminou-se agora mais.

- Sim! Quer vir às oito?

- Oito? Posse? Não problema?

- Não tem problema nenhum, pode vir às oito.

Ainda foi preciso insistir mais uma ou duas vezes, ele parecia incrédulo. E feliz. O sorriso não o tirou mais.

- Amanhã. Oitoras. Adeus. Obrigade, obrigade!

Ou seja, amanhã, pelas sete e cinquenta e oito, já eu estarei de mão na maçaneta para abrir a porta, evidentemente, nem vai ser preciso que soe a campainha.

(A minha filha ficou radiante e admirada: ele sorriu! E ó mãe, ele tem um sorriso bonito! Mas nós, que lemos blogues, sabemos que qualquer sorriso que seja de verdade é bonito.)

10 comentários:

  1. No parêntesis vê-se um sorriso teu.

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  2. Não consegui demovê-lo, quis ficar aqui...
    Eu: Queres mesmo ficar aqui assim nesta caixa de comentários da Susana? assim tão previsível?
    Ele: Pois claro que quero. Aconteci-te mesmo de verdade, não foi? posso ser previsível, mas a Susana merece ver-me e saberá dar o devido valor à minha beleza estonteante...

    :-)


    (pronto, aqui está ele. Quis ficar assim em destaque e tudo. Estava que não se aguentava, perdoa-lhe este exibicionismo vaidoso)...

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    1. Ó sorriso, esta caixa de comentários nem seria a mesma sem ti! Pois fizeste muito bem em insistir em ficar, tu que aconteces mesmo de verdade tantas vezes à tua... dona. Olha aqui eu também, a fazer número!

      :-)


      É melhor sermos muitos de verdade do que poucos. De uma verdade de La Palisse, mas isso não interessa para agora. Pois não?

      :-)


      (um exibicionismo imperdoável, esse, realmente, e incrível! onde já se viu?)

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  3. OH, quanto eu precisava de o ter aqui próximo, tenho uma casa de banho para remodelar e nem sei a quem hei-de pedir tal tarefa. Tem sorte, muita sorte. Além disso este post devia ser lido por todos os partidários da contra emigração.
    ~CC~

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    1. Minha querida CCF, se isso for mesmo a sério, podemos sempre fazer uma troca de contactos e tal.

      Tomara muitos portugueses trabalharem com metade da dedicação do Vladimir.

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    2. Querida Susana, claro que é a sério, mas moro em Setubal city! Aposto que o Vladimir não vem para aqui...ou será? Bem conversadinho, até lhe arranjo alojamento:)
      ~CC~

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    3. Eu vou perguntar se ele se poderia deslocar a Setúbal, depois retomamos a conversa :-)

      Um beijinho, CC, e bom início de semana.

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