a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

17/07/2019

A raposa, o cartão do cidadão e o espetro do fofinho (é escolher)

Sento-me no terraço ao sol, uma vez que o nevoeiro já fez a gentileza de se retirar e dou conta do cheiro das cabras do vizinho inglês que o vento me traz. Elas cheiram ao próprio queijo, mas em mais levezinho. As galinhas da família destas cabras foram todas roubadas, uma a uma, por uma raposa, disse o vizinho para explicar por que razão já não nos dá ovos. As cabras é que a raposa ou não as conseguiu convencer ou não se interessa por elas, agora não sei.
A minha filha Saminhas estava com o cartão de cidadão para renovar, e como os lugares de culto para o efeito em Lisboa só se fossemos para lá de véspera e passássemos o dia todo seguinte a olhar para o quadro dos números de chamada uma vez que não tivemos jogo de cintura pela Páscoa, no máximo, para marcar vez no sistema, viemos para a quietude da serra tratar do assunto. Ficámos despachadas em vinte minutos e ainda tivemos tratamento personalizado no espetro do fofinho, se quisermos usar as suas palavras.

2 comentários:

  1. Espetro do fofinho, fatia de manhã a ser gota de água, abraço apertado desfeito em palavras (é escolher)

    Podias ser só uma pessoa que se adivinha linda de morrer, mas, ainda por cima, tens noção?, fazes poesia com raposas, cartão do cidadão, galinhas, politicamente correcto, sapatos, dores que se carregam, é que, ainda por cima, escreves a embalar o quotidiano, dando possibilidade, à mais pequena coisa, de ser protagonista, de ter magia, até a um guardanapo.

    Sim, foi "Fatia de manhã", desta vez, a gota de água, mas, creio que sabes, hei-de continuar a dizer, todas as vezes que me apetecer, o quanto tem sido de valor ter "tropeçado" em ti.

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    1. Minha querida Cláudia, nem sei como te agradecer tamanho comentário! Que veio cair num dia especialmente escuro e difícil para mim, veio, ou seja: foi muito bom lê-lo.
      Não mereço a tua querida generosidade, sei disso, mas saboreei-a todinha.
      Na parte "linda de morrer" ainda dei uma gargalhada (para dentro, porque li o teu comentário numa esquadra de polícia, um calor imenso, a angústia, e afins), por isso, olha, valeu! (mesmo)
      E quem verdadeiramente usufrui desse teu feliz tropeçar, Cláudia, sou eu.
      :-)

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