Mas depois - o silêncio! - compreendi. Ao contrário do fenómeno André Rieu, quando a orquestra se veste de preto é para que os instrumentos brilhem nos seus metais. É para que as madeiras, tranquilas, aqueçam as notas no ponto. E se forem de cordas, o silêncio da cor dá-lhes o espaço para vibrar. O silêncio da cor. E então a música vem inteira. Pura, suave, dura, chorando ou dançando, agonizando até, ela traz intacta a alma do poeta que a escreveu, sentindo. Como uma oração, um respeito completo, um outro interior. E só assim, sem exuberância adicional, a minha alma insegura, incerta de estar, friorenta, pode abrir-se e, quando capaz, experimentar a alma do poeta como se ela fosse ele. Só assim serei tomada por dentro. Num concerto de André Rieu, estou certa, seria tomada, ah seria, mas apenas por fora.
E depois, sabes, o silêncio da cor, a música que permite sentir, serve de exercício para melhor te compreender. Para melhor ver o mundo. Se não o todo, pelo menos o teu.
Não sou grande conhecedora de musica mas confesso que os concertos do André Rieu me assustam.
ResponderEliminarDemasiada cor, alegria, animação. Não gosto, demasiado folclore.
É um tema interessante, este do efeito da música em nós e nos nossos estados de espírito. :-)
EliminarApesar de não ter o impulso de ir a um concerto do André Rieu, fico agradada por ele existir e o seu modelo de concerto. É que faz mesmo muita gente feliz. Pelo menos pelo tempo que dura o concerto. E isso é bom.
Um beijinho, ana. :-)
Obrigada, Susana, por ter acordado a pensar nisso.
ResponderEliminarUm abraço apertado.
Minha querida MP, muito obrigada eu pelo seu comentário!
EliminarAbraço retribuído calorosamente. :-)
a música toma-nos por dentro para esculpir um jardim dentro de nós. grava sulcos, levanta terra, remexe raízes e enreda-nos na história que temos cravada no coração. faz ressoar o desconhecido que trazemos connosco, aquelas coisas às quais nem sempre sabemos dar um nome. a música é um abandono, uma concavidade onde nos soterramos para nos reerguer depois, mais engrandecidos. se não fosse a sua possibilidade de redenção, como saberíamos nós amar o brilho silencioso das estrelas que nunca poderemos abraçar?
ResponderEliminar[tão lindo, tão maravilhoso, o teu texto, querida Susana. Obrigada.]
devolvo-te o abraço apertado que me deixaste ontem. :)
Paula, o que eu acho cómico é tu teres escrito aqui no comentário algo muito mais belo e musical do que o post e depois ainda deixas um ramo de flores para mim arrumadinho em bonitos parêtensis retos.
EliminarOu seja: muito obrigada, querida paula. :-)
Hum... e agora o que eu queria dizer a seguir ficas a adivinhar está bem? bolas. espero que nada esteja a doer, pelo menos não demais.
o abraço retoma o seu aperto, dos longos, pois.
Não importa agora o que penso dos concertos do André Rieu, não importa ter uma história que me marcou, há algum tempo, completamente encantada, uma emoção tremenda, com um concerto do André Rieu, não importa que o nome André Rieu me transporte logo para esse momento e por isso me faça todo o sentido esse vibrar das outras pessoas, o que me importa agora e quero mesmo muito dizer-te, é que este teu post está simplesmente maravilhoso, bolas Susana, que maravilha de post, é impossível este pedaço de texto não mexer connosco. Fico grata a André Rieu por mais uma coisa :-). E também quero deixar-te um abraço.
ResponderEliminarÓ Cláudia, mas tu és uma melodia cristalina, tu própria! E por acaso até me importa o que tu pensas dos concertos do André Rieu! Ele consegue fazer algo muito belo: unir a multidão em uníssono, cantando, dançando.
EliminarE estas tertúlias? que boas.
Abraço também, Cláudia, e obrigada pelo teu comentário generoso, como sempre. :-)