a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

06/03/2023

No comboio

Toda a gente que vejo do meu lugar viaja mergulhada nos respetivos telemóveis, evidentemente. De súbito, o homem asiático à minha frente levanta a cabeça e olha para um ponto no vazio. Parece pensar. Imagino-o informático. Ou talvez engenheiro mecânico, ou engenheiro de sistemas. Sistemas diversos, um pouco misteriosos, mas sistemas. Não o vejo enfermeiro, psicólogo ou advogado. Faço o resto da viagem enumerando mentalmente profissões que não lhe atribuo. Marinheiro, agricultor, padeiro. O homem asiático - talvez chinês, coreano, japonês - conclui a sua reflexão, sorri sozinho no vazio, e regressa ao mundo digital do seu telemóvel. Não notou a minha existência e nunca saberá deste texto. Depois, como eu, sai em Utrecht Centraal para a noite fria, chuvosa. 

4 comentários:

  1. Após ler este seu texto, e por daquelas coincidências que a ciência não sabe explicar, fui a um dos meus sítios noticiosos e deparei-me de imediato com a seguinte notícia de cabeçalho: «How a single engineer brought down Twitter». Esse viajante estará, presumivelmente, inocente, de tal feito. Mas quem sabe se esse dito sorriso... :-)

    Boas viagens, Cara Susana.

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    1. E realmente o sorriso dele era suficientemente enigmático para ter algo assim por trás!
      Que cómico, caríssimo xilre!
      (e muito obrigada :-))

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  2. Muito bem. Gostei de ler!!
    .
    'Nem só de flores vive a Mulher'...
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    Beijo, e um excelente dia... (Da Mulher🌹)

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    1. Muito obrigada, Cidália. E que todos os dias sejam bons para si, para nós, todas e todos. :-)

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