a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

23/07/2024

Diz-se oiçai?

O cair da noite está quase pronto. Mantenho-me imóvel, colada à almofada do assento de jardim. A menos de dez metros de mim, está o mastigar das ameixas, maçãs ou peras que rejeitei durante o dia depois da inspeção visual. Digamos que a taxa de defeitos anda nos vinte por cento, o que sem a intervenção de cenas químicas é excelente. Lanço os frutos rejeitados para o terreno abandonado, aqui ao lado. Não que eu seja mal-educada, trata-se antes duma espécie de aquisição de bilhete para o espetáculo noturno e ao mesmo tempo redução do desperdício para zero. Mas é o elegante mastigar de um javali. Podemos sorrir a isto, claro, porém cuidado que ele é muito idêntico ao nosso, especialmente quando alguém se esqueceu de nos ensinar que não se mastiga de boca aberta.
Sabendo a quantidade de frutos que o animal tem para degustar, estimo que a cena vá durar. Continuo portanto firme (e hirta) a ouvir o repasto. Ainda a possibilidade da suína libertação de ar, o derradeiro momento deste longo ato, tem força que basta para me fazer superar o ataque das melgas, que já se pôs jeitoso.
Melgas. E não mosquitos, meninos. Okay? Melgas! 

Entretanto gravei o primeiro ato da banda sonora, oiçai se mais quiserdes.



2 comentários:

  1. Já era uma vizinha querida para os seus vizinhos...agora será para todo e qualquer bicho dessa serra:) (tirando as melgas, claro...espero que dessas não se torne amiga)

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    1. Ah, CC, que ideia bonita!
      Estes bichos fazem uma companhia maravilhosa. Penso muitas vezes nas pessoas boas que, a partir de 1990, introduziram de novo estes animais na serra da Lousã. Estavam extintos. Agora são felizes eles e nós. 🙂
      (e as melgas, hum, nem se sentem).
      Bom fim de semana!

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