a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

16/10/2013

Muita satisfação

Acabo de descobrir que chá de gengibre com hortelã fresca é quase tão bom como ficar na cama ao sábado de manhã a sorrir de olhos fechados, que não é dia de trabalho.

Por isso, agora é isto: chego a casa, tiro os sapatos e o casaco, ponho uma coisa de borracha nos pés que me assenta muito bem o andar, visto outro casaco, um que comprei há doze anos quando ainda era branco, numa loja de desporto, e antes de desatar a gritar às miúdas que arrumem os livros da escola, os ténis espalhados pelo chão, a manta do sofá que ganha vida própria quando elas estão em casa mas nunca foi uma, sempre a outra, antes disto tudo, deito água na chaleira nova e carrego no botão.

Enquanto oiço o apito rouco que a electricidade faz ao manobrar poderosamente a energia, enfiando-a dentro da molécula de dois hidrogénios com um oxigénio, enquanto isso, corto fatias finas de gengibre que trouxe do supermercado e penso: o gengibre é como eu. Feio por fora, bom por dentro.

Depois, quando a água atinge o ponto de mudança de estado e a chaleira sabichona da tecnologia faz saltar o botão que eu antes accionei, deito um pezinho ou dois de hortelã dentro da panela do chá (panela fica bem mas é bule, é bule), a água fervente por cima e deixo-me levar pelo aroma.

A seguir esqueço-me de gritar tudo o que declarei que grito às minhas filhas, preparo o jantar e bebo o chá de gengibre com hortelã como se não houvesse amanhã. Esta expressão corriqueira agrada-me bestialmente e por isso hoje a posto aqui com muita satisfação.

E agora que mudei o teor dos meus posts para receitas caseiras, vou tratar da pilha de roupa que está por passar. Como se não houvesse amanhã.

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