a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

18/10/2013

Tampões de esponja cor-de-laranja

Uma das t-shirts de uma das minhas filhas exibe a inscrição "sweetness of nature" em letras brancas abertas em rectângulos pretos num fundo, de novo, branco. E foi hoje o dia em que os meus olhos pousaram nela, nesta hora de quietude no lar em que apenas resto eu de vigília. A t-shirt está pendurada nas costas de uma cadeira à espera de apanhar boleia para a gaveta a que pertence.

Eu ignorava até este momento que a minha filha informa o mundo, que com ela tem o privilégio de se cruzar, de uma verdade tão cristalina e tão pura.

Em primeiro lugar, não quero escrever um post comprido, para não fazer diminuir ainda mais o número de visitas a este blogue outonal.

Em primeiro lugar também (que vem apenas um nano segundo depois do parágrafo anterior e não um segundo inteiro), sinto-me uma má mãe por só agora ter visto o que está escrito numa camisola da minha doce filha, quando aquela já está a entrar na idade puída das camisolas.

Em segundo lugar, sinto-me uma má mãe porque nem sequer sei a qual das doçuras da natureza que eu pus no mundo esta peça de roupa idosa pertence.

Em terceiro lugar e com vista a manter o post curto e apetitoso de ler, se é que ainda vou a tempo, acabo de perceber porque dizem as minhas filhas a propósito de uma outra mãe que essa é que é uma mulher a sério. É que vai aos saldos, é que faz compras com as filhas (dela), é que sabe escolher.

Em quarto lugar e último (mantenho o intento da curteza do texto), há que esclarecer então, justiça seja feita, que a tal outra mãe, que já sabemos que é uma mulher a sério, não se importa com a música de levar-com-tábuas-na-cabeça que as lojas de roupa para jovens insistem em passar em altos berros. E por isso deve conhecer as mensagens das t-shirts das filhas.

Este parágrafo é extra, que depois do último não deve vir mais nada, mas há que fechar a história: eu, mulher a sério mas mãe incompleta, declaro que vou fazer uso dos tampões de esponja cor-de-laranja que me deram num voo de longo curso e vou acompanhar as minhas doçuras da natureza na próxima visita às lojas, vou vou. De tampões de esponja cor-de-laranja nos ouvidos e de sorriso na cara.

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