Hoje à tarde fui a Moscavide.
Descia uma das ruas perpendiculares com a janela do carro aberta, a minha filha sentada ao meu lado, o sol a deitar-se em toda a parte e cheirou-me a elefantes.
- Cheira a elefantes.
- Elefantes, mãe?! Como sabes a que cheiram os elefantes?
Olhou para mim sorridente, sobrancelhas fora da posição de repouso, expressão interrogativa, olhos pretos brilhantes, é tão bonita a minha filha.
- És tão bonita, filha.
No fim da rua que descemos e que é perpendicular à avenida a que o bairro deu nome, não vem ninguém a quem dar prioridade mas paro o carro, saco da máquina fotográfica de dentro da mala (sim, eu tiro fotografias com uma máquina fotográfica muito boa, a especialidade dela é fotografar, daí o nome), olha lá para mim outra vez, meu amor.
- Mãe, vais tirar-me uma fotografia com esta loja por trás?
- Não, vou tirar três, espera aí. E essa loja é boa, tem vestidos de noivas.
Ela esperou. Sorriu, encolheu os ombros, ai ai, mãe, que maluca!
Moscavide é um bairro feio. Tem prédios feios e ruas feias. E hoje cheirava a elefantes. Eu não devia gostar de Moscavide. Mas gosto.
É com certeza de ser maluca.
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