a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

10/09/2016

Com muito mais encanto (na hora da despedida)

Caso um dia me aconteça ter um estabelecimento de restauração com menu, por exemplo, salada com grãos mas não sabemos quantos e ovo cozido, tomate vermelho do verão perdido na salada grega onde se encontra com o feta, sopa de beterraba desfeita em lágrimas de azeite pouco ácido e uma doçura de batata, empadinho de legumes salteados que de empadão ninguém gosta, redução de mil folhas aprovadas e assinadas pelo cozinheiro a uma deliciosa resma, pasta de abacate ao garfo com gotas de limão frio e por aí fora antes que nos dê o sono, portanto caso um dia me calhe gerir um estabelecimento tipo restaurante, dizia, vou tratar de fazer duas coisinhas. Uma das coisinhas é elaborar um menu apetitoso e completamente irresistível - já se leu a entrada - a outra coisinha é pior. Pior na medida em que um, a ideia me nasceu há pouco num restaurante de Coimbra e portanto não está amadurecida e dois, é de uma irritação reduzida a medo que me ela nasce. Mas inovadora, é uma ideiazinha inovadora. Suponhamos então que ainda vamos estar no tempo dos menus e que as pessoas largam os aparelhos inteligentes em cima da mesa para segurar nos menus enquanto degustam a leitura constante, ai que giro ai que giro, e discutem, e pensam, e optam.
Pois é aqui que está a nossa ideia: as pessoas a pegar nos menus sem medo. Sem medo de lhes fazer mais um vinco do tipo roupa velha, de lhes escangalhar os cantos já de si meio desfeitos, ou de lhes arrancar uma folha caduca, mas isso pronto, tudo bem, agora esta parte: sobretudo as pessoas a pegar nos menus sem medo de capturar colónias de bactérias imersas nas camadas de gordura e sujidade de várias cores que se pode colher em cada menuzinho dos restaurantes onde ninguém se lembrou de aplicar a inovação de lavaaaaaaar aquela porcaria (os menus). Ou então projetá-los no ar em holograma que se havia de poupar o ambiente livrando-o de bicharada atómica e até ficava tão giro isso, mas eu nem digo tanto. Digo lavar.

(e digo que me livrei de noventa por cento da dor nas costas num prazo de dez dias contra as cinco semanas prescritas pelos médicos como mínimo, mas temo estar hospedeira de uma boa coleção de bactérias obtidas num menu de Coimbra, menu este, de facto, com muito mais encanto na hora da despedida: um nojo)

13 comentários:

  1. Querida Susana, ainda bem que as tuas costas já se livraram do menu/dor que nuca mais acaba. Agora uma sugestão: um menu a chegar por sms também me parece fixe, já que cada um engordura só o seu telemóvel, não te parece? Em terceiro lugar, quando abrires o tal restaurante com resma de mil folhas avisas, sim?
    Fico contente por estares melhor. Oxalá o menu gorduroso não te tenha feito mal. :)

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    1. dor que nunca mais acaba, ora essa, pois se era nas costas, só faltava agora, com o poder extraordinário das palavras, passar para a nuca... cruzes, repito: nunca.

      abracinho horroroso :)

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    2. Minha querida Teresa, posso dizer-te que a minha nuca se sentiu feliz com a referência. :-) don't worry.

      Há séculos que me apercebo de que uma das coisas mais emporcalhadas em que pegamos nos tempos que correm são os menus de restaurante. Sendo alguns bem piores que outros.

      saudades deste horrorozinho, Teresa :-)
      (adorei a tua cesariana)

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  2. Viva ter-se livrado das dores!!! Que de um menu a gente livra-se melhor e mais rapidamente. Nos últimos tempos não tenho olhado muito para eles. Na erdade, há gente que nem pelos seus interesses zela. Existe sempre a chance de uma reclamação por escrito, de abandonar o restaurante, de ...
    Vá de retro, esperemos que esteja fortalecida contra as bactérias e afins do dito cujo.
    BFS

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    1. Olá bea! :-)

      De facto uma reclamação talvez resultasse. Normalmente resulta.

      Bom fim de semana para si também e obrigada.

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  3. Bom, bom era substituí-los por uma parede de lousa onde o menu se se escrevia com giz visível em toda a sala, sem que alguém tivesse que lhe tocar...

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    1. Pois era. E alguns fazem isso mesmo. Devem ser teus leitores, Tétisq. As boas ideias são para se copiar. :-)

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  4. Neste momento não estou com imaginação nenhuma para te oferecer um comentário daqueles que me apetecia oferecer-te e que estivesse a condizer com o meu contentamento por ver que a tua voz voltou a soltar-se mesmo que para falar de menus gordurosos, é que isto tem mais encanto contigo por cá e uma pessoa já estava mesmo mesmo quase à beira de ir desrespeitar o silêncio :-)

    (espero que te livres depressa dos restantes dez por cento de dor nas costas. Tem uma excelente semana, querida Susana)

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    1. Mas ofereceste-me um comentário generoso e maravilhoso, como são todos os teus, Cláudia. Gosto tanto.

      A minha voz não tem podido soltar-se mais porque o tempo não estica para tudo, mas em breve normalizará, espero. :-)

      (já vou em 3% restantes, está quase :-))

      Um beijinho, querida Cláudia, e obrigada.

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  5. Ainda bem que as dores nas costas estão a enganar até os médicos e a desaparecer antes do previsto. Quanto às gordurosas... É reclamar. Reclamar e pedir luvas descartáveis... :)

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    1. Boa ideia, luisa, aliás acho que as luvas vão é passar a andar comigo na mala, just in case. :-)

      (escreveste um post tão lindo, luisa... tentei comentá-lo, mas não consegui... no entanto queria dizer-te que adorei o que escreveste, uma beleza)

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    2. Vim aqui à procura de um post teu, mais próximo da data real. para deixar os parabéns atrasados e um bjo. :)

      (Obrigada por dizeres que o tal post estava lindo... )

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    3. Obrigada, querida luisa. :-)

      (nada que agradecer, eu é que agradeço poder ler-te e ver-te as fotos)

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