a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

14/12/2016

Ou eu não percebi o espírito natalício ou as mulheres são más mas é para os homens

Ao final da manhã de hoje, eu sossegada em casa, a trabalhar, entra a minha filha Saminhas, que é a mais nova e muito enérgica, enfia a cabeça na sala onde estou e dispara, olá mãe, posso levar um pacote de massa para o almoço em casa da Maria?
- Olá, querida, podes. – hoje havia almoço em casa da Maria.
- Trago de volta o que sobrar.
- Não é preciso!…


À hora do jantar, agora todas em casa, defronte dos lombos de salmão au alecrim com puré de batata verdadeira e couves de Bruxelas, tudo preparado por Muzi, a mais velha, lança a enérgica Saminhas:
- Ai adorei o meu dia hoje, foi tããããão bom!!!!!
Já estamos habituadas a estas manifestações de felicidade de Saminhas e eu lembrei-me do almoço em casa da Maria.
- Então? Correu bem o almoço?
- Simmm!!! Correu!!!! Mas gastámos a massa toda, mãe, éramos cinco.
-  Claro, filha, obviamente. E quem eram os cinco? - conheço, na generalidade, os amigos das minhas filhas.
-  As duas Joanas, a Maria, o Pedro e eu. Foi tããão bommmmm, estivemos a conversar imenso!, ali, no espírito do Natal, ao pé da árvore e das luzes!…  
- E sobre que falaram vocês, ali, no espírito do Natal? – nem sempre as minhas perguntas têm resposta, mas eu tento.
- Falámos de imensas coisas… bem… o Pedro contou-nos as classificações que os rapazes da turma nos deram…
- Classificações?!
- Sim, de zero a dez. Eu tive um seis! – e mostra-se toda sorridente e feliz.
- Um seis???? Tu mereces um dezasseis!!! – eu considero as minhas filhas o top, I can’t help.
- Mãe, é até dez. E eu acho que seis é muito bom!
- É pouco, mereces mais…  E as outras meninas?
- As Joanas tiveram uma sete e a outra oito, mas elas são mesmo lindas, mãe… Mas a Maria teve um cinco…
- Oh… - gosto especialmente da Maria, também por ser a que conheço melhor - então e o Pedro, não foi classificado por vocês?
- Bem… como é evidente nós não perdemos tempo com essas coisinhas menores…. portanto só nos debruçámos hoje sobre esse assunto e resolvemos classificar o Pedro, mesmo ali à frente dele.
- Ah, bom. E então?...
- Primeiro tivemos de o dividir em dois: corpo e cabeça, senão não dava. Isto tinha de ser a sério.
- Ah… e?
- De corpo teve um sete/oito.
- Ena! E de cabeça?
- Três e meio.

(grande espírito natalício: este miúdo merece de certeza mais - é dos melhores alunos da turma e ajuda os restantes nas dificuldades...)

22 comentários:

  1. avaliação com critérios tão apertados não dava para que o espirito de natal entrasse na equação. geralmente as fórmulas são muito restritivas. :))
    (ri-me um bocadinho confesso) (apesar do assunto ser sério) ( e a massa devia estar mesmo boa)
    boa noite, Susana

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. :-))

      (sim, parece que a massa estava boa e os bifes de peru também, nesses o espírito do natal parece que entrou...) :-)

      Um bom dia, Mia.

      Eliminar
  2. Desconfio que elas aplicaram um desconto-sanção por causa dessa conversa das classificações. Fizeram bem. Merece um 2!! :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. O que eu gostava de ter ouvido o debate que decerto antecedeu a classificação... :-)

      Um 2!!! Coitadinho... :-)))

      Eliminar
  3. Pobre rapaz... Dividido em dois. :))

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Mas claro, luisa, como classificar uma pessoa como um todo uno e indivisível? Impossível, claro.
      :-)

      Eliminar
  4. Espero que os meus filhos não pertençam ao grupo dos classificadores. E até que não sejam classificados. Ainda que para mim sejam nota 10.

    ResponderEliminar
  5. (que saudades das minhas tecendo considerações, relatando episódios, assim em 'pucanitas' :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. eu agarro estes anos em que ainda as tenho em casa com as duas mãos e mais tivesse. Tenho plena noção que depois... depois virá um vazio.

      (E mais tarde, quem sabe, os netos) :-)

      Eliminar
    2. não há vazios, Susana. a vida muda, nada mais :)

      Eliminar
  6. perante esse rasgo de inteligência dos mancebos, eu dividiria o rapaz/es dos pés até à coxa, da coxa até ao umbigo, do umbigo até ao pescoço, do pescoço até ao nariz, e, por fim, do nariz até ao escalpe. só depois classificava.

    elas foram muito boazinhas :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. elas se calhar não quiseram empenhar-se tanto no processo... :-)

      Eliminar
  7. Adorei :)

    Fantástica a tua Saminhas, gosto dessa energia e clareza de espírito.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada, conta corrente :-)

      E bem-vindo!

      (a energia, a boa energia, é sempre tão bem-vinda seja em quem for) :-)

      Eliminar
  8. Ai os maganos! Três e meio foi muito, tendo em conta a fúria classificadora!

    Beijos, Susaninha :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. :-)

      Sabes o que mais me cativa nisto? É a transparência com que se pronunciam, os miúdos são puros.


      Beijos de volta, querida Maria. :-)

      Eliminar
  9. esse gajo é um delator, devia ter menos oito...

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. claro, claro, Manel. vocês os homens nunca se deviam delatar uns aos outros, je comprend ça.
      :-)

      Eliminar
  10. Engraçados os miúdos. Acho no entanto que à medida que crescem continuam a classificar. Mudam os critérios, os números passam a adjetivos, mas as classificações continuam :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. De facto é assim. Nós devíamos aprender mais com eles, em vez de os querer enfiar nos nosso moldes por vezes tão viciados.

      Bom domingo, GM :-)

      Eliminar