a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

19/10/2017

Creme (ilustrado) de beterraba e lentilhas vermelhas

- Então o que me querias mostrar, mãe?

Tirei o meu telefone esperto (embora não muito muito) de dentro da mala e busquei ecrã após ecrã, até ser exibido o texto pretendido: toma, lê isto.

Estamos sentadas junto à janela, frente a frente e frente aos nossos almoços, um de salada, o outro de hambúrguer com boa fama por isso ainda vá, batata doce e sumos naturais completamente vitaminados e coloridos. Olho o seu rosto sereno enquanto lê, as pestanas longas, os olhos grandes varrendo o texto no ecrã. A palavras tantas, solta uma risada. Depois retoma o ar sereno, que linda esta miúda, e continua. No fim da leitura, quando me devolve o telefone, pergunto:
- Então? Vamos fazer para o jantar?
- Vamos!
- O que te fez rir no texto, Saminhas, posso saber?
- Foi aquilo dos abusos físicos, mãe. Tu fazes exatamente o mesmo…

Ao cabo do almoço, antes de tornarmos a casa, passámos no supermercado: uma beterraba grande, escolho a maior para incentivo à intensidade do deguste, uma cebola do mesmo calibre, cenouras já lá temos, o molho de coentros frescos vai já este, falta a embalagem de lentilhas vermelhas, está ali.

À noite, encostamos ambas à cozinha. Eu atiro-me ao creme de beterraba e lentilhas vermelhas, nunca tinha eu ouvido o termo “estalar cebola”, mas segui o instinto quanto a isso, normalmente vou lá assim. A minha filha trata dos filetes de peixe espada preto. Os filetes beneficiam, por unanimidade, de parte do molho de coentros e levam tratamento à bulhão pato, ó mãe isto até cheira a conquilhas!

Quando mergulho a varinha mágica no caldo cozido depois dos quarenta minutos prescritos para passar o preparado a creme, oiço ao meu lado: ah, mas isso está muito líquido! Então não era para ficar puré?!...

- Não, filha, creme é espécie de sopa...

Mas estarei eu certa ou estará ela?



Para já confirma-se: é um belo creme, degusta o palato e degustam os olhos. Muito obrigada à Mãe Preocupada pela receita.

Quanto aos filetes à, tipo, bulhão pato, vamos lá dizer estalados em alho, azeite e coentros, adaptaram-se muito bem, eles, a batata cozida e, no meu caso, o copo de vinho branco.

14 comentários:

  1. Fiquei exactamente com a mesma vontade de "estalar" a cebola, de "fazer prova do meu amor". As palavras da Mãe Preocupada deixaram-me água na boca, a foto da Susana fez-me salivar.

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    1. E ficou mesmo bom, Be. E a cor aguça o deguste, é experimentar.
      :-)

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  2. Não parece muito líquido:). Se ficou bem, é de avançar e repetir a receita. Não posso fazer prova do meu amor com sopas. O mais longe que os filhos chegam é a dizer que só em minha casa comem sopa sob a condição de manter ad eternum os mesmos ingredientes. Não é a qualidade que os move:).
    Essa tem um colorido espantoso. Estava assim a modos que divina?

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    1. A modos que divina, precisamente!
      Ela achou líquido porque estava à espera de uma espécie de puré de batata encarnado :-)
      Ai vou repetir, vou.
      As minhas sopas não têm lá grande fama apesar dos meus esforços, por isso deitei-me a esta com esperança redobrada. E funcionou!
      :-)

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  3. Também vi e apeteceu-me experimentar...mas detesto beterraba! Essa fica sem sabor a terra? É esse sabor que não suporto.
    Beijinho
    ~CC~

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    1. Ah, CC, a mim a beterraba nunca soube a terra... e eu estou no grupo de pessoas que comem beterraba às rodelas ou de qualquer maneira, eu gosto muito de beterraba. A mim a sopinha sabe-me que nem ginjas, como se costuma dizer. É questão de experimentar. :-)
      Outro beijinho e bom fim-de-semana.

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  4. E não ouviu claramente a cebola a "estalar" quando o azeite começou a ferver, Susana? O que é cozinhar senão pôr os cinco sentidos a funcionar?
    Um abraço. E obrigada.

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    1. Não só ouvi a cebola estalar, como pensei "ah! a cebola estala mesmo!"
      E quanto aos sentidos, minha querida MP, estou plenamente de acordo: aliás é esse o argumento no qual me baseio quando tenho de defender a minha vontade de continuar a viver sem um robot de cozinha desses tipo bimby, contra a pressão da sociedade para também eu ter um.
      Quem agradece sou eu, que o creme é tão saboroso quanto bonito. :-)
      Outro abraço.

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  5. Boa noite, Susana.
    Venho agradecer-te o abraço, pelo desabafo, que foi.

    E porque hoje também estou a fazer sopa. Desta vez desafogo a gaveta dos legumes, atabalhoada, todos cá para fora, depois tudo lá para dentro, umas pedras de sal, como não tenho sofisticação boto um cotozinho de chouriço e vuálá, quer dizer, logo se vê.
    ;)

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    1. Olá Lady Kina. :-)
      O abraço tinha de ser. O teu desabafo fez eco dentro de mim. Nada de que agradecer.

      E essa sopinha de desafogar a gaveta dos legumes, de que cor ficou?
      O chouriço normalmente sente-se muito aconchegado em sopas, o arranjo deve ter tido sucesso, suponho. :-)

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  6. Isto é (só) mais uma receita para eu experimentar...
    Este post, assim em vermelho, ficou muito bom à vista, portanto: de certezinha que a sopa estava ótima.

    Boa semana, Susana

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    1. Ah, Gina, tu és mulher para experimentar e postares a foto da sopa, de várias perspetivas e com filtros e eu estou aqui e estou a imaginá-la toda fotogénica. E gostosa!
      A sério, experimenta - a minha filha mais exigente de sopas a-do-rou.

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    2. As lentilhas vermelhas já eu comprei, que era o que não havia na despensa. São cor-de-laranja, mas pronto, às tantas escurecem com a cozedura. :)

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    3. Ó Gina, mas eu estive mesmo para escrever no post que as lentilhas vermelhas são cor-de-laranja, mas depois não escrevi, enfim. (eu apago muito, sabes lá)

      E acho que não escurecem muito. :-)

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