Iamos as três no carro. Lentidão sem fim, Lisboa ainda estava longe e o Sol horizontal a lembrar que era cedo, muito cedo. A Ana qualquer-coisa, que fez o favor de cantar, com letras infantis, compositores clássicos (para me ajudar nestas intermináveis filas de trânsito, tenho a certeza), entretinha-nos pela quinquagésima vez nessa semana. Eu, pela força de tanto ouvir, fiquei definitivamente alérgica tanto a essas composições cantadas como aos originais.
Iamos as três, dizia eu. As miúdas tinham na lancheira o pequeno-almoço, que servia de mata-tempo naquelas manhãs em que calcorreávamos quilómetros muito mais compridos que os outros, e que a mim permitia levantá-las do sono uns preciosos 10 minutos mais tarde.
Nesse dia era uma tremenda barra de cereais açucarados que eu já não me lembrava que tinha permitido, na última visita ao supermercado. E o habitual copo de leite que só por sorte não se entornava quando a roda do carro se metia no mesmo buraco da 24 de Julho (argh!!!!) nos dias em que o sono me entorpecia a atenção.
A mais velha, então com 6 anos, incumbida de garantir que os víveres matinais se distribuíam entre ela e a irmã equitativamente, estende-lhe a tal proibidíssima barra de cereais.
A outra, a quem nada passa sem exame detalhado e comentário na certa, diz:
- Ó Sofiaaa, esses cereais engordam! E eu assim fico... engurda!!!
- Engurda?! - espanta-se a Sofia, barra suspensa a descair em desânimo de rejeição.
A de 4 anos, que entretanto percebe o erro mas não se dá por vencida, declara:
- Ó pá, é inglês!
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