Há pouco tive um encontro casual tão bonito.
A Agustina Bessa-Luís esteve no ecrã da minha televisão e também deve ter estado nos ecrãs de muitas outras por esse Portugal fora, a ideia é essa, adiante, antes que eu escorregue no meu entusiasmo, ai que se me verte dos dedos, derrama-se pelas teclas do computador, ainda bem que já não se escreve à mão, assim vamos mais depressa e, como dizia, o encontro casual que bonito foi.
Diz a Agustina que lia muito. Que na adolescência preferia ficar a ler em vez de ir a festas com pessoas da sua idade.
E eu, de repente, tocada cá dentro, fundo, Agustina eu também, voei até aos momentos longínquos que vestiram de paz a alma de perguntadora que comigo nasceu.
E aterrei nos fins de tarde das férias de verão da minha adolescência. Sentada à beira da piscina com toda a colecção de literatura que podia encontrar na estante da casa dos meus avós, a nossa casa de férias, sorvia, gulosa, páginas e páginas enquanto havia luz cá fora, na companhia das andorinhas do entardecer que rasavam a superfície da água e a debicavam para matar a sede.
A sede e mais uma porção de microrganismos, devido ao tratamento químico que a referida água oferecia, eram andorinhas com saúde, isso via-se na precisão do voo rasante.
Ler, como a Agustina lia, como eu lia, como o meu querido leitor ou a minha querida leitora agora me lê, que isto tem de ser justo, ler é ouvir um silêncio.
Escrever, como ela escreve, como eu estou agora mesmo a fazer, que não fico de fora da metáfora, cada um trincha o frango com a ferramenta que tem, escrever é falar em silêncio.
Falar para alguém que, depois, vem ouvir.
Não importa se vem pouco depois ou muito depois.
A palavra escrita nasce e instala-se fora da corrente do tempo, onde a morte não a pode encontrar.
Deve ser por isso que a paz mora aí.
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