Finalmente
sento-me no terraço, pego no livro. O sol já desceu muito, está tudo torto. O
dia muda-se para o meio do oceano, a manhã vem a caminho agarrada à noite, a
semana vai chegar cedo.
As horas correm
como as formigas grandes (não as agarro).
Mas finalmente o
livro no terraço. Abro-o, começo a ler. A meio da página uma grande formiga de
maio (mesmo grande) entra no meu campo de visão periférica sem ninguém a chamar
e eu vai que lhe aponto a vista central e é isto: a sombra da formiga grande
corre lado a lado com a sua dona, é ainda maior que ela mas não a consegue
ultrapassar, corre a uns dois passos de distância (passos de formiga).
Devolvo, ainda
com o sol no cabelo e convicção ora redobrada, a vista central à página do
livro. Estamos sentados dentro do autocarro que circula numa rua estreita da
cidade. Gosto de ler momentos íntimos das cidades, ver-lhes a tripa à mostra
sem elas saberem que estou a olhar, descobrir-lhes um ângulo escondido, um
suspiro de cimento vibrante, nem sei como gosto disto mas sempre gostei, as
cidades são almas gigantes que me fazem sentir pequena e dentro delas me perco
de mão dada com o livro.
Passa-me rente ao
ouvido um insecto gordo e abelhudo, outro filho deste maio quente, vai a zumbir
alto como seria de esperar de um insecto assim e a seguir choca inesperadamente
com o pilar do telheiro, tac. De novo a minha vista central se apeia do
autocarro, espreita debaixo do telheiro, não, o insecto não caiu, recuperou o
norte que levava no pêlo e fugiu com uma dor de cabeça das grandes (e de maio),
mas isto sou eu a dizer.
Desta vez entrego-me
ao livro como me entrego a ti, a ver se vai. Sorrio por dentro do autocarro,
que saiu da rua estreita e nos deixa ver exactamente o que te vou mostrar amanhã.
Os jacarandás
começaram a florir.
A semana chega quase sempre cedo demais. Os jacarandás bem podiam estar sempre em flor. :)
ResponderEliminarAssino isso aí. Os jacarandás merecem estar sempre em flor. E nós com eles. (é que eu quando vejo jacarandás assim, fico com as pétalas todas borrifadas, pois fico) :-)
EliminarOlá, Susana.
ResponderEliminarO sossego da leitura interrompido aqui e ali, pela vida que sai às ruas em maio =)
Ah, os jacarandás em flor... como disse tão bem, a Luisa aqui "em cima": "podiam estar sempre em flor".
bj amg
Olá Carmem :-)
EliminarO sossego da leitura às vezes demora a chegar.
Eu cá se mandasse, fazia os jacarandás estarem sempre em flor. E as magnólias também. :-)
Beijo, Carmem.
Este ano, tardam as flores... ou eu e o tempo andamos às avessas. Faz-me falta a cor que se torna mágica à luz do alvorecer .
ResponderEliminarBeijos, Susaninha querida.
Tardam um bocadinho, pois tardam. Mas hão-de chegar. Chegam sempre. :-)
EliminarBeijinhos, querida M D.
E com as flores chegam os sorrisos :)
ResponderEliminarboa semana Susana :)
Se chegam! As flores são pérolas inacreditavelmente belas. Capazes de desencadear os melhores sorrisos :-)
EliminarBoa semana, Just.