Sendo praticamente muito tarde devia levantar-me da cadeira semi
de baloiço e semi de joelhos em que me sento para escrever e ir pelo caminho mais
curto para a cama, mas temos um problema.
Há temas. Os temas querem ver-se escritos e anda um a
morder-me o coração (sim, roubado do título de um livro de Patrícia Reis, que
eu criatividade foge-me muito).
Trata-se do presente de aniversário que as minhas filhas me
deram já lá vão mais meses que seis. Ofereceram-me um momento
zen ou spa a escolher de um catálogo muito generoso com oferta em todo o país
até ao dia trinta e um de maio e eu não estou a conseguir.
Ainda lhes vejo os olhos lindos que pus no mundo a brilhar
de alegria, mãe tu precisas mesmo disto, massagens e spas, gostaste do presente?
Que não sou a melhor mãe do mundo eu já sabia. Ou sequer de
Portugal. Mas começo agora a desconfiar que nem aqui do prédio devo ser (no entanto, neste
prédio vivem muitas muitas mães). Desperdiçar assim oito meses de validade de
um presente tão bom não se perdoa. E o pior é que andava ainda março a espreguiçar-se
e elas vieram pôr-me a caixinha do catálogo em cima da mesa mais próxima, mãe
não deixes passar o prazo, tens de marcar a massagem.
No fim de semana comecei a telefonar arduamente, ainda confiante, para
os números que encontrei nas páginas do catálogo previamente seleccionadas, tinha-lhes dobrado os cantos a marcar as limpezas e as massagens e outros serviços um pouco até assustadores,
mas dobrei-lhes os cantos na mesma; mendiguei: por favor, era só um momento (zen),
não é possível minha senhora... qual é o seu prazo? é já dia trinta e um (corei,
claro), ah pois, mas dia trinta e um é o prazo de muita gente, estamos cheios.
E agora?
- A senhora pode pedir a renovação da validade se quiser. São
onze euros.
- Uma espécie de castigo, compreendo. – eu quando não estou a
trabalhar e mesmo em modo de desânimo, posso muito bem estar a brincar.
- Não… não é castigo, minha senhora, é o serviço – nem toda
a gente brinca, evidentemente – e a senhora tem sorte, porque o ano passado
eram vinte e dois euros.
Tenho sorte, tenho muita. Só espero merecê-la toda.
Ofereceram-me em tempos semelhante castigo digo regalo. Embora tenha acedido ainda dentro do prazo, foi já no limite, e se entrei então naquelas instalações com stress, saí delas possessa...
ResponderEliminarUm par oleado de mãos estranhas a percorrerem-me inteirinho o corpo semi-nu durante mais de uma hora, em ambiente perfumado ao som de música encantatória, nas penumbras, não é para mim. Desconheço os motivos da tua procrastinação, mas os meus tiveram a ver, sim, com a antecipação dos angustiantes momentos dos quais eu bem sabia não iria haver atitude zen bastante para livrar-me.... Desejo-te boa sorte!
Eu sou bem capaz de reagir como dizes, não sei se tenho jeito para massapão. Mas enfim, vou-me esforçar e vou ver se arranjo um pacote adequado. Talvez me surpreenda! :-)
EliminarUma vez aconteceu-me pior, sem desculpa: o meu filho ofereceu-me(com muita antecedência)um bilhete para o teatro, na verdade uma peça a que não me apetecia muito ir. Estava no escritório e eu de vez em quando olhava para o bilhete e ia -me conformando com a ideia, vendo a parte boa, que era ir ao teatro com ele, no dia dos meus anos. Até que, quando voltei a olhar, tinha sido ontem...Foi uma sensação horrível e irreversível. Quanto teria pago de "multa", para não o decepcionar... acho que até teria recrutado um desses serviços, "até assustadores".
ResponderEliminarBom castigo, Susana, mas acho que é mais sorte.
Obrigada, Teresa. :-) A tua história faz-me companhia neste mal estar de mãe desatenta.
EliminarEspero que tenhas conseguido compensar-vos do esquecimento, de alguma forma. Não sermos perfeitas é uma óptima forma de sermos mães, quanto a mim.
E sim, é sorte, claro que é. :-)