Não sei exactamente quando deixei de me interessar por planetas.
Cresci alérgica à televisão e isso arrumava-me dentro de coisas do tipo suplemento
do Expresso aos sábados. Recortava-o sempre que lá havia assunto sobre planetas, é verdade, buracos
negros (interessam-me ainda) ou o mistério da extinção dos dinossauros (idem)
e metia-o no dossier de capa azul, lia muitas vezes aquilo.
Claro que nessa altura não fazia ideia que o rio está
diferente todos os dias e que de manhã para a tarde pode crescer de azul para
verde, e depois à noite pôr-se preto com brilhos (já mostro). Ando a estudar
isto. Todas as manhãs me chego perto, não muito, o suficiente para lhe ver o
dorso macio até à conclusão: vestiu-se de
fato às riscas em tons de azul ou está
sonolento, boceja ou ainda copula
calmamente com o céu (esta não percebi).
Não me interessa que a NASA tenha descoberto um planeta parecido
com a Terra. Já andamos há tanto tempo a escavacar este, poluímos à fartasana, estragamos à vontade,
e depois? Depois juntamos o petróleo todo (se ainda houver petróleo) num
space shuttle à maneira e mudamo-nos
para esse novo planeta onde o sol também brilhe e a água também se beba para depois
retomarmos alegremente as guerras e um novo ciclo de poluição, tipo assim? Aproveito para acrescentar (ainda há alguém a ler isto?) que quem vai de
bicicleta para o trabalho havia de ter benefícios fiscais como gente grande, quem anda de transportes públicos também, etc, mas isto são outros quinhentos (para quando eu for ministra).
E íamos aqui: a seguir ao jantar olhei sem querer pela
janela e vi o céu cor de rosa e azul a deitar-se no rio, precisamente (é isto
que eu digo), o ar respirava-se a si próprio de tão bom que estava e eu dei um
salto, vamos, e fomos logo (arranquei uma filha de casa).
A noite começou a chegar depois de nós e arranjou o lugar grande para se instalar
mesmo em cima de tudo. Havia gente a correr, gente de bicicleta, jovens pais a empurrar carrinhos de
bebé, cães e donos a passear. Havia verão, o brilho das luzes, havia a ponte a guardar os
peixes e os morcegos que voavam baixo (doidos), havia saxofone ao vivo e havia
a minha filha a caminhar ao meu lado, mãe que bom, mãe gosto tanto, mãe quem me
dera ter um cão, mãe conta-me coisas.
Não sei exactamente quando deixei de me interessar por planetas,
outros planetas. Mas sei exactamente porquê.
(no entanto, continuo indecisa: se é a Ave Maria de Bach que me toca mais fundo, se a de
Schubert… aqui, logo a seguir a ti)
Como seria possível haver quem não te lesse quando as tuas palavras iluminam tanto os sentidos como os sentimentos?
ResponderEliminarEu, apesar de tudo, sou daqueles que busca o Belo em todo o lado, e tal como há dias escrevi no meu recanto, a NASA mostrou-me como até nas linhas que cosem a galáxia há magia, como a história de Plutão e Charon.
Um beijo Susana
Eros, essas são palavras que não sei se mereço... mas que do coração agradeço. :-)
EliminarTambém eu gosto de tudo o que é ciência. O que não gosto é de ver a facilidade com que nos desresponsabilizamos de cuidar o que é nosso.
Outro beijo, Eros, e bom fim de semana.
Eis-me aqui plantada a ler isto, até ser de noite.
ResponderEliminarTeresa, a tua companhia é muito bem vinda. :-)
Eliminar(E enquanto está tudo na praia a fazer pela vida e ninguém nos ouve, deixa-me dizer-te que gostei daquele teu comentário com linhas em branco no blogue sabemos de quem) :-)
Um beijinho, bom fim de semana.
Susana, tenho andado a pensar que a qualquer momento podemos ter de novo que intervir... :))
EliminarJá pensei fazer uma greve de silêncio.
Gostei muito desta contemplação.
Bom fim-de-semana, beijinho.
(Teresa... aquilo é bluff... não creio que tenhamos de intervir... mas se tivermos, lá estarei, munida do que for preciso!)
EliminarMuito obrigada e vai outro beijinho.
Susana, não é viável ficar muito tempo afastado deste espaço. Digo eu, um homem exigente, defensor do perfeccionismo.
ResponderEliminarAh, voto na Ave Maria de Schubert.
Bom fim de semana.
Caro Observador, este espaço é seu, gosta da sua visita.
EliminarTambém creio inclinar-me um pouco mais para a de Schubert.
Bom fim de semana para si e um abraço.
Fico nesse entardecer, a ver o teu rio, posso?
ResponderEliminarBelas, as tuas palavras, mesmo que ponham os planetas em segundo plano. Também, quem olha os planetas quando pode olhar as estrelas?
Beijos, Susaninha, e bom fim-de-semana. :)
Minha querida Maria, o rio é nosso. Muito obrigada pelas tuas palavras, sempre carinhosas. Tu fazes bem à blogosfera.
EliminarBeijos de volta, bom fim de semana. :-)
Como vês, ainda há alguém a ler isto. E que parece ter vontade de continuar. ;)
ResponderEliminarO teu texto tem muita coisa boa para fazer pensar, mas agora vou apenas fixar-me num aspecto.
Essa dos benefícios fiscais para quem vai para o trabalho de bicicleta ou em transportes públicos, para ser aplicada justamente, deveria conter várias excepções. É que muitas pessoas, mesmo que o queiram fazer, não têm possibilidade. Fora das grandes cidades, nem sempre a rede de transportes é compatível e há distâncias grandes a percorrer.
Beijo, Susana.
Ah, mas é que tu não sabes as alíneas que a lei dos benefícios fiscais para os ciclistas vai ter!
EliminarEu sei, eu sei que devia ter mencionado as pessoas que andam de comboio... sim, pode parecer uma falha grande, mas ainda não estamos em campanha eleitoral e eu tive que me limitar, compreendes?
:-)
Beijos, Isabel. (safei-me?)
Já li tudo e estou, agora, a embalar-me em cada palavra, sem pressas, ao sabor da ondulação do rio. Faz tão bem lê-la!
ResponderEliminarE, agora, mais duas coisinhas: Susaninha para ministra! E...bem, eu também não me consigo decidir entre Bach e Schubert :)
Um beijinho e bom fim de semana
Querida Miss Smile, as suas palavras são um bálsamo, tal como o são os seus textos.
Eliminar(e obrigada pela intenção de voto, assim já não falta tudo) :-)
Outro beijinho, um bom domingo.