a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

29/06/2016

Uma de nós vai comer a outra

Por um lado, vê-se perfeitamente que este blogue atingiu a saturação, absorveu o seu público e estagnou, começou a escorrer pelas paredes na forma de substância viscosa, um cansaço que dava para uma poesia negra que eu não sei qual é, mas sei que falar do blogue é giro, liga as pessoas. Porém, antes de lhe fazer um shifting ou um lifting, ainda não decidi, vou fazer o meu jantar e mantenho vivo o bloguezinho.

Por outro lado, tem estado uma dourada embrulhada num saco de plástico em cima da bancada da cozinha nas últimas horas a perder o frio que trazia, completamente morta. Isto interesse ter não tem, mas que sabe bem escrever, ai sabe.  

Talvez não seja mal pensado acrescentar que ontem à noite fui a Cascais e quando saí do carro deixei de ver onde punha os pés porque o meu cabelo que não é lá muito curto, se meteu todo em frente da cara, dos olhos, enrolou-se no pescoço que eu senti, o vento soprava muito forte e mudava de ideias em termos de direção a tomar em cada segundo, portanto eu tive de segurar os meus cabelos com as duas mãos para atravessar a estrada em segurança e ainda bem. Porque consegui ver pelo canto superior do olho direito um caixote de papelão aberto num dos lados, tipo pronto-a-usar-em-estando-quieto, a voar como se fosse um caça acrobático em queda picada na minha direção, ao que baixei a cabeça num instante para não ficar encaixotada em Cascais, o caixote arrastou-se depois, perdedor, pelo alcatrão fora a mando do ventão que estava, eu com as mãos na cabeça – aproveitei que já lá estavam a segurar o cabelo e disse valha-me deus mantendo-as ali por ser bastante apropriado - e logo a seguir o caixote tentou fazer-se a um carro que travou a fundo à boca do malandro, posso dizer quase entrou dentro dele, havia de ser um carro encaixotado em Cascais e falta só dizer que não era propriamente um carro enorme.

Isto pus aqui no blogue mesmo assim saturado e tudo, para me entreter enquanto a dourada assava, ela já assou e agora com licença que uma de nós vai comer a outra.

24 comentários:

  1. Acho muito bem a saturação do blogue. Dá-lhe uma certa graça e diferença, um travo especial que não é a queimado nem a requentado e portanto pode ser um bom sabor. Refinado. Quem sabe...

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    1. Obrigada, bea... não tinha visto por esse prisma.

      Quem sabe, de facto... (talvez um dia os blogues tenham sabor)

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    2. E como é que alguém que assim escreve se atreve a pensar que os blogues não sabem nem cheiram...

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    3. É só a tecnologia esticar-se mais um bocadinho para as maluquices a que já hoje se dedica e os bloggers farão sardinhadas virtuais em junho e coisas assim :-))
      Mas o que eu queria dizer mesmo era isto: obrigada, bea.

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  2. Agora o que mais interessa é saber se a dourada te soube bem e se estás menos saturada. :)

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    1. Minha querida Pseudo, a dourada estava mesmo au point. Eu gosto muito de peixinhos.
      :-)

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  3. Espero que não tenha sido a dourada a comer-te. Ela não saberia manter o blogue. :)))

    Beijos, Susana :)

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    1. A dourada nem tentou. Eu podia dizer que não sou apetitosa mas, para além de não se enquadrar no meu habitual registo nada sexy, a verdade é que nem me lembrei de lhe perguntar. :-)

      Portanto sobro eu para manter o blogue.

      Beijinhos, Maria. :-)

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  4. mesmo quando descreves como atravessas a rua, vale a pena começar o dia a ler-te, ou acabá-lo, se não tiver tempo de manhã :)

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    1. eu li este teu comentário pela manhã, ainda antes de sair de casa e levei-o para o saborear pelo dia fora, e já sabia que não ia conseguir responder-te à altura.
      Fico tão satisfeita que me digas isso, ana.

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  5. Ah, a saturação dos blogs. Tenho o meu desde o final do verão passado e já começo a sentir o cansaço. Quem disse que isto era fácil, ahn?

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    1. Ninguém. Não é fácil, pois não, mas, querida Nádia, o teu blogue é daqueles de rasgar o mercado, de arrasar, de crescer e ficar bem grande (aliás já está). E tu se gostas dele, continua, eu - não estando muito dentro do teu público alvo (sou uma velhota, percebes?), achei-o logo um blogue ganhador e já lá passei uns momentos fresquinhos de leitura agradável. Continua, é o que te digo.
      E sejas bem-vinda, gosto de te ver aqui.
      Um beijinho.

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  6. Este blogue até pode estar saturado, mas eu não estou saturada deste blogue. Hoje saio daqui muito contente, com uma espinha de dourada, perdão, com a espinha dourada.

    Tem um bom dia, Susana. Um beijinho. :)

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    1. Teresa, entro assim já a dizer-te que o teu conto que só hoje li - o do cemitério - me arrasou. Achei-o digno de um top de vendas. Sabes o que me apeteceu? pedir-te para o desenvolveres, o tornares mais longo, lhe acrescentares mais história. Adorei. (e não comentei lá e comento aqui porque estive a trabalhar até agora e quando o li não soube logo como comentar - sou requentada, por vezes)

      Tu és dourada na espinha e na luz que deitas à blogosfera, querida Teresa. Tu é que nunca saturas.
      Um abraço daqueles bem horrorosos. :-)

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    2. Susana, quero agradecer-te muito por vários motivos. Primeiro porque leste o conto, o que para mim já é causa de alegria, depois pelas palavras tão elogiosas que nem sei o que fazer com elas!... Eu tenho continuado a trabalhar nesse texto desde que o publiquei, mas mais na forma, na luz, no som, nos silêncios. Verei o que consigo fazer para o melhorar, já que o publiquei ainda em esqueleto [(dado que é sobre um cemitério pareceu-me bem usar a palavra esqueleto :)]

      Querida Susana, para mim és genial, é isso. Tenho um respeito enorme pelo teu trabalho e por ti como pessoa. Venho aqui sempre, e saio sempre enriquecida. E a blogosfera é enorme, não é verdade? A mim parece-me que este blogue está em franca expansão.
      Um abraço apertado (lá desses), que eu gosto muito. :)

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    3. Nada há a agradecer, minha querida Teresa. Eu li o teu conto por prazer, comecei a lê-lo e fui deslizando poe ele abaixo, sentindo-me envolvida, imaginando o cenário no Alentejo (tu não mencionas o local, acho, mas eu coloquei tudo no Alentejo) e no fim apetecia-me ler mais, continuar, daí ter escrito o que escrevi ali em cima. E mantenho, acho que o teu conto quer crescer. :-)
      E muito obrigada pelas tuas palavras, Teresa. (li-as dentro do avião antes de desligar o telefone e levei-as comigo no voo)
      Sim, esse abraço lá desses, todo muito horrorozinho. :-)

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  7. Há pouco tempo, só tinha pessoas com quem gostava de conversar ao perto, depois um dia deu-me para ver como era isto dos blogs e descobri que também existem pessoas com quem gosto de conversar à distância e então penso que todos os temas servem para servir o interesse que é o gosto de com elas conversar e para isso também todos os pretextos são bons, os cabelos que tiveram de segurar, o caixote que quase as encaixotou, a dourada que comeram e depois, uma pessoa assim aqui, a deixar um comentário, que é o mesmo que dizer a conversar, sem saturação nenhuma (e a voltar a pensar que o lixo não é lugar para conversas que apetece ter)

    Despeço-me de ti com beijinhos, e claro, contente por saber que vamos voltar a conversar :-)

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    1. E eu há muitos anos quando aprendi a palavra tertúlia, apaixonei-me pelo conceito e quis muito pertencer a uma. Cero dia estava a conversar com um cavalheiro que podia ser praticamente meu avô e era meu amigo, que pertencia a uma tertúlia relacionada com o Eça de Queiroz, coisa muito distinta, e eu comecei a fazer-me, mesmo sem me aperceber, mas ele, quando viu que eu já me estava a querer enfiar na tal tertúlia, disse muito depressa que se tratava de assunto só para cavalheiros.... bem, depois tentei eu criar uma, ainda começou a dar os primeiros passos, mas perdeu o fôlego depressa, as pessoas nos dias que correm ou são reformadas ou estão muito ocupadas (e mesmo as reformadas...).
      Também eu gosto muito de conversar. :-)
      Obrigada pelo teu comentário, querida Cláudia.

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  8. É oficialmente um vírus, isto da saturação.

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    1. Completamente, Cuca. Já tentei com o produto contra o pulgão das orquídeas mas não funcionou. Vou passar ao diapasão, sei lá, pode ser que o vírus não goste de vibrações afinadas... (lembrei-me do diapasão por causa do teu piano)
      :-)

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  9. Concordo com a Cuca!
    E o meu também se queixa...
    Beijinhos Susaninha e não faças shifting

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    1. Mafy!! Ainda há dias pensei que seria feito de ti.
      O teu blogue é um blogue voador, se lhe deres gás às asas ele deixa de se queixar.
      Não, shifting não faço, prometo (até porque não sei o que é um shifting de blogues, estava à espera que viesse aqui alguém explicar... :-))
      Beijinhos de volta.

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  10. POis... a saturação também anda por aqui. Ainda se soubesse a dourada grelhada, mas não, isto da saturação sabe mesmo a sopa requintada. Há que fazer uma sopa nova e fresquinha acompanhada de uma dourada au point, tal como a tua :))

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    1. Mas querida GM, antes sopa requintada que sopa requentada :-)))
      E desculpa lá, tu e as tuas aventuras (admiráveis!) em duas rodas são tudo menos atreitas à saturação!
      Um beijinho e um abraço (apertado).

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