a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

08/10/2019

Tipo socorro

Quando eu era pequena não havia nem cão nem gato que passasse perto de mim que não levasse com os carinhos mais caprichados, atenciosos, assentes no expoente das minhas capacidades do espetro das ternuras. Assim andei até as visitas que fazia a certa casa, pessoas das amizades dos meus pais, me porem, invariavelmente, num estado lastimoso. O facto de nessa casa morarem três gatos não me despertava nenhum aviso, apenas me fazia feliz por ver os bichanos de novo (e claro que eles também gostavam de mim, pensava, senão por que não fugiam e ainda fechavam os olhos todos encaixados no próprio pelo à passagem da minha mão?). Portanto, no final dessas visitas, quanto a mim, o tremendo inchaço nos meus olhos, já só no estado de fechados, o arranhar na garganta atrapalhando-me a respiração e a aflição do meu nariz que não sabia onde havia de se meter, tinha origem, provavelmente, num defeito só meu, que se manifestava sempre naquela casa especial, logo por azar. A minha mãe então disse: tu deves ser alérgica a gatos. Levou-me a fazer os testes respetivos a um consultório médico onde eu haveria de passar muitas tardes a fazer os trabalhos de casa, depois da escola, em cima das cadeiras da sala de espera. Alergia aos gatos! E das grandes! O médico arregalou os olhos para a senhora reação do teste no meu braço e disse, Esquece os gatos. Eu esqueci.

Passados todos estes anos sem eles, vida sossegada a minha, aparecem-me no terraço, na casa da serra, três exemplarzinhos a fazer miau de seguida, ainda crianças. Ora, toda a gente sabe que gatos pequeninos são total e absolutamente irresistíveis, situação da qual eles estão cientes, dela se servindo conforme lhes der jeito. Isso pode observar-se no intervalo de andarem a caçar gafanhotos pelo arredondar dos olhares quando lhes bate a fome nas barriguinhas peludas, sendo isto um exemplo. As marradinhas nas nossas pernas também não ajudam e os sons emitidos em rrrrrr idem. Então, com os eucaliptos por testemunha e dizendo a mim mesma que é só desta vez, não me deixarei apanhar, abri uma lata de atum ao natural. Dispus o peixe num pratinho que coloquei no chão: três cabecinhas em redor, mnham mnham e cinco segundos para o prato ficar a brilhar de limpo. A partir daí foi pescada cozida com batata e as espinhas retiradas com muito cuidado, ovo cozido esmagado para ajudar à mastigação, asinhas de frango cozidas, desfiadas, sem ossos, claro, e acepipes do género. Basta-me abrir a porta que dá acesso ao terraço (ver figura 1) para dar de caras com os três bichinhos implorando, um miarzinho aqui outro ali, quando não vêm a correr (a galope?) até derraparem já junto ao prato que entretanto aumentou para dois números acima.

Já me encontrei, inclusive, a pesquisar na internet onde se compram casinhas para gatos de exterior, uma vez que para dentro de casa já sabemos que não posso. É que vem aí o inverno e coitadinhos o frio. Estou nisto. Estou nisto e estou feita.
 (Figura 1 - Os culpados)

10 comentários:

  1. Ai que bichanos mai lindos, Susana!
    E o do meio (dizem que dá sorte ter um gatinho de três cores) até fez pose e tudo.
    Toca a comprar a casinha, que as noites na serra são frias...
    Terça feliz!
    🍃🍁🍃

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    1. Esse do meio, que eu penso tratar-se de uma fêmea, é de facto o que mais "problemas" me dá :-)

      Uma quarta feira feliz para si e muito obrigada pelo comentário, Maria.

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  2. Socorro mesmo, também não seria capaz de fazer coisa diferente:)
    ~CC~

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    1. Ah, CC, acho que ninguém conseguiria passar ao lado destas coisinhas miantes e adoráveis... :-)

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  3. Gatos de 3 cores são sempre gatas. Problema do frio e alimentação à parte... É necessário, e urgente! Esterilizar essas 3 pestinhas. Passam de 3 a muitos num instante.

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    1. Querida Mafy, há quanto tempo!

      Mas estes pestinhas são ainda pequenos... devem ter meses, sei lá, uns 4 ou 5 meses... ou essa capacidade de reprodução é assim tão precoce?!
      Beijinho, Mafy, obrigada por teres passado por cá. :-)

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    2. Penso que seja cedo, mas é boa ideia contactar o veterinário municipal. Há campanhas de esterilização gratuitas nas câmaras o que dá muito jeito com 3 a cargo. Cá por casa também há 3. Que são literalmente os donos disto tudo mas já não passo sem eles nem imagino a minha vida sem os ter por perto. Achava que era uma pessoa de "cães" até me entrar uma gata pela porta a dentro e me conquistar.
      Beijinhos Susana e aproveita. Os gatos são simplesmente o máximo!

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    3. Obrigada pela dica, Mafy. Sim, aproveitá-los-ei sempre que puder (e eles deixarem!) :-)
      Eu também sou uma pessoa de cães. Aliás, sou uma pessoa de animais com exceção dos gafanhotos... e mais uma ou duas espécies que agora não me ocorrem :-)
      Beijinhos, Mafy, e longa vida feliz para esses gatos aí.

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  4. Pois...Como dizer-lhes que não pode ser, que não dão jeito nenhum nas nossas vidas, seja por que motivo for, quando decidem adoptar-nos? Como explicar-lhes das alergias, como convencê-los, eles ali assim tão fofinhos e nós com esse papo furado de alergias, pode um negócio desses? :-)
    Eu também fui adoptada por dois gatos, mas adultos, passei a garantir-lhes conforto (fora da casa principal) comida e festas, um, entretanto, já morreu, por ser já muito velhote, o outro, afinal, tinha uma dona que não se conformava com aquela traição do seu gato estar sempre a fugir para a minha casa, por causa dele, deixei de poder ler na rua, adoro ler em cima de um determinado muro encostada a uma coluna de um telheiro, o gato chegava, subia devagar pelas minhas pernas, e sentava-se mesmo em cima do livro e eu desatava a rir, era sempre assim, entretanto a dona deve ter arranjado maneira de o prender, há um tempo que não aparece, e, sabes, eu que praguejei tantas vezes por não poder estar na rua sem um gato colado a mim, agora até tenho saudades dele e espero que não lhe tenha acontecido mal nenhum. São uns malandros, uns danados de uns sedutores!

    Beijinhos Susana, estou aqui tão solidária contigo! :-)

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    1. Cláudia, acreditas que quando estes três gatinhos me apareceram no terraço a lançar charme por todo o lado me lembrei de ti e dos "teus" dois gatos? Eu já tinha lido essa tua história acho que nos comentários do PMS. :-) Mas ainda sem o desfecho, claro.
      Que coisa bonita leres os teus livros no muro (à mercê do gato da vizinha)! Tu própria uma gata, certo? :-)
      Isso do gato se sentar no teu livro é mesmo próprio... safadões. Estes "meus" ainda tão pequenos e um deles já me veio ajudar a teclar no computador com as belas patinhas peludas! (depois tive de apagar o que ele escreveu, estava numa língua estranha) :-)
      Que uma pessoa fica sem chão com estes bichos, ai fica.

      Beijinhos também para esse lado e boas leituras murais!

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