Eu tinha atendido o telefone com o entusiasmo correspondente.
- Dona Esmeralda, há quanto tempo!
- Não era para si, desculpe... andava a tentar apagar o número de uma pessoa que morreu e liguei para si.
- E como eu ainda não morri, atendi. Como está?
- Olhe, sei lá. Estou! Tal como todos, nesta prisão!
- Então já não vai trabalhar?
- Ai vou, isso vou! Levo um cachecol enrolado a tapar a boca e o nariz e apanho o autocarro. Mas lá no refeitório andamos todas de máscara e luvas, tem de ser. As outras pessoas não, quando vão comer não levam máscara e sentam-se dois em cada mesa, naquelas mesas compridas, há turnos, está a ver?
- Deve ser cansativo andar de máscara todo o dia.
- Então não é?... Eu até parece que ando com a garganta esquisita. As gargantas não estão habituadas às máscaras, filha.
- Pois, acredito... Então mas ao menos vê gente, não está o tempo todo sozinha.
- Ó filha, mas eu queria ficar em casa, acho que era melhor, não acha? Sempre a lavar as mãos, de tanto em tanto tempo lavamos as mãos... eu até já tenho as minhas alcoolizadas.
Se já me estava a ser um bocado difícil gerir as gargantas não estarem habituadas às máscaras, agora é que escapou mesmo a gargalhada.
- Desculpe, Dona Esmeralda. É que ter as mãos alcoolizadas não é para todos.
Ela também se riu.
- Ai a gente ri-se, mas isto é muito triste. Quando vou às compras, as pessoas é um passo para trás um passo para a frente, toda a gente a afastar-se, a ir de volta, é muito triste, filha.
- Olhe, mas isso do cachecol. Faz muito bem, tem é de o mudar...
- E mudo! Ainda hoje lavei dois. E como tenho cinco, é um para cada dia da semana, está tudo controlado! E olhe, combino o cachecol com a roupa, escolho o que dá melhor, e lá vou eu!
Agora rimos ao mesmo tempo.
- Mas sabe, há uma coisa que me revolta.
- O quê, Dona Esmeralda?
- É os hospitais não terem tudo o que precisam e haver tanto dinheiro metido em estádios de futebol. A quantidade de estádios que se fizeram p'raí e ficaram às moscas, já viu? Depois vem uma coisa destas e os hospitais não têm o que precisam! Então não era de o dinheiro ter ido logo para os hospitais?
Como diria a Carla, com quem eu partilhava intervalos à beira da máquina do café com a D. Esmeralda por perto a nutrir a conversa: Já foste!
Deixa-me ver se agora já consigo dizer coisas aqui...
ResponderEliminarAgora queria dizer: Olha a Dona Esmeralda! Que saudades da Dona Esmeralda!
Se der, desato a dizer coisas que queria ter dito também noutros posts
Ora, então, deixa cá experimentar...
Olha! Já deu! Já deu! Olá, Susana!
Eliminar(Agora vou só ali, a outro post, dizer olá à tua irmã. Olha que situação tão boa de colaboração arranjaste) :-)
Olá Cláudia! Ainda bem que o Blogger já se pôs fino e podes comentar.
EliminarTambém eu tenho saudades da Dona Esmeralda.
Boa semana para ti. :-)
💛
ResponderEliminar🌻
EliminarO assunto é sério e a dona Esmeralda está cheia de razão, mas as mãos alcoolizadas fizeram-me soltar uma gargalhada cheia de culpa de me rir no meio de um assunto tão sério.
ResponderEliminarHá quem solte os avós, eu soltei uma gargalhada. Pronto!
Com esta senhora difícil é não rir. Com todo o respeito, claro.
EliminarBom dia, irmã :-)
Que maravilha de diálogo. Ainda que telefonicamente. As mão alcoolizadas? Hahhahah a moda vai pegar! :)
ResponderEliminar-
Silêncios que me tocam a alma.
-
Beijo e um excelente Domingo
Obrigada, Cidália :-)
EliminarBoa semana para si, um abraço.