a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

18/08/2013

Diogo

Está bronzeado, o meu sobrinho.

A sua tez apresenta uma penugem fina, branca, que contrasta com o tom dourado escuro da sua pele.

Quando o vi pela manhã agarrei-lhe o queixo, virei-lhe a cabeça, deixa a tia ver.

A luz brilhante do sol de Agosto tilinta como cristais mudos na penugem que lhe cobre a face à sucapa e lhe desenha muito bem a raíz dos cabelos castanhos.

Abracei-o, és tão lindo Diogo.

Ele sorri, não sabe o que dizer. Conhece bem os meus abraços sufocantes, sabe que não os posso evitar. E faz-me o favor de não tentar escapar.

Normalmente pergunto-lhe como vai a escola, mas agora, ah, agora esta penugem que o sol pintou da cor da neve mandou-me engolir a pergunta. Fiz-lhe outra. Então o que andas a ler?

Torceu-se um pouco, olhou de lado para o chão, não estou a ler nada, agora são as férias.

Depois levantou a carinha bronzeada para mim e disse, orgulhoso, mas já li dois livros do clube dos sete!

E eis que faz a declaração, os dentes enquadrados pelo sorriso que me oferece, ainda demasiado grandes no seu rosto de menino. Tia, vou ler um livro até ao fim do Verão!

É o abraço dele para mim.

Quando o acabares contas-me a história, prometes?

Ele prometeu. 

E eu, enquanto espero, ponho a tocar o concerto de Mozart para clarinete, aquele que costumo tomar contra a impaciência.

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