a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

05/08/2013

O agricultor


Parece um carrinho de brincar, de tão bonito que é.

Enquanto Erik faz o nosso barco deslizar pela água quieta do canal, fico a vê-lo trabalhar a terra.

Desenha lenta e pacientemente uma serpentina apertada no terreno, por forma a não deixar nada por fazer. 

Ao progredir, o verde que lhe fica para trás é de um tom diferente daquele que ainda está por calcorrear.

Como não nasci nestas terras, não me fica mal a pergunta. O Erik respondeu, ele sabe.

O agricultor está a revirar a erva que cortou há dias. Para que a camada de baixo fique agora por cima, a secar ao sol. A que esteve por cima passa para baixo, já está seca, não se importa.

Daqui a um ou dois dias de sol, se o houver, esperemos que sim, vai o agricultor recolher toda a erva, já seca. Junta-a depois num grande monte que vai cobrir com um gigante lençol de plástico, para não deixar a chuva entrar. E a erva fica a descansar o resto do verão.

A descansar, sim. Sem apodrecer. Porque o sol lhe levou a água e com ela a hipótese de se instalar uma família muito grande de bactérias a fazer das suas. Nem conto o resto, é terrível.

Quando o inverno chegar, o gado não pode alimentar-se nos prados por causa do frio e da neve. Então, abrir-se-á o enorme plástico protector e a erva sequinha do verão fará as delícias das vaquinhas.

Depois vem o leite, o iogurte e o queijo, já sabemos. E vem muito, que o monte de erva vai durar até Abril.

Se eu fosse criança, pedia um tractor destes ao Pai Natal.

Como não sou, vou antes pedir à chuva que espere um bocadinho e deixe a erva secar.

Para que, quando vier a neve, toda a gente tenha queijinho por aqui. 


E enquanto o saboreiam à lareira, as famílias holandesas planeiam o próximo verão.

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