a voz à solta
26/08/2013
Torres gémeas
Quando, há dias, subi à montanha galega, a que toca nas nuvens e se deita a Caminha, levava comigo uma dose de coisa pegajosa, pesada, esta tristeza. Para expurgar, com a ajuda das torres.
Alguém as pôs ali, às duas, gémeas da comunicação.
A da esquerda, há muito tempo, para comunicar com Deus.
A da direita, há menos tempo, para comunicar com os homens. E com as mulheres.
É a banda larga completa: seja qual for a inclinação que cada um leva, ali pode comunicar.
Assim fui eu, com a tristeza às costas, à procura de comunicação que me aliviasse.
Mas não resultou. Tentei com as duas, com a torre da esquerda e com a da direita. Não consegui ligação.
Então sentei-me no chão, vergada pelo peso, esta tristeza que se pegou. Olhei lá para baixo, perguntei ao rio. O que hei-de fazer?
O rio não me respondeu, mas eu vi.
Vi que não posso fazer nada, o ferry roubou-me a ligação. Anda a brincar com ela, para cá e para lá.
A ligar as margens do rio.
A largar à popa a espuma branca que a água lhe empresta, a divertir-se.
A rir.
- Ris-te de mim, ferry - digo-lhe, cá de cima da minha tristeza.
- Rio, rio, diz ele. Rio Minho.
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