a voz à solta


Se leio, saio de mim e vou aonde me levam. Se escrevo, saio de mim e vou aonde quero.

07/07/2015

Muitas gerações de tábuas de engomar (pouquíssimo para homens)

Vagueio pelos corredores da loja de artigos para o lar, procurando sensações precisamente do lar, gosto muito.

Principalmente das que se colhem em jogos de lençóis de algodão branco com florzinhas campestres bordadas na dobra, em jarras de vidro transparente a pedir um arranjo floral, candelabros destinados a casar com os cristais nas mesas de jantar ou em cabides de parede na forma de um home sweet home que me lembram o aroma de um bolo a sair do forno enquanto o fogo crepita na lareira. Não tanto os detergentes em garrafas de plástico de cores ofuscantes, embalagens de luvas de borracha, baldes e vassouras, aspiradores de mão que me admira ainda se venderem, uma vez que se avariam se não na primeira semana de uso, então é na segunda. Portanto volto atrás e viro para os cestos de vários tamanhos, ponho imensas coisas lá dentro sem mexer em nada, a imaginação faz isso e continuo ao longo das fileiras de chávenas de café e cafeteiras, depois as de chá, as almoçadeiras também estão e chego a tempo à zona dos serviços de mesa, cerâmicas encantadoras a maioria. Corro-as com os olhos, levanto a cabeça para a de topo mas antes do grande final temos que dizer uma coisa pertencente a este capítulo.

Descobri recentemente que duas donas de casa muito conceituadas cá para mim, uma dentro da minha família outra fora, não passam a ferro, não passam a ferro, lençóis com elásticos de abraçar colchões, daqueles põe-se e já está, estica-se com as mãos, não. Não passam. Ora eu que me debati tantos anos em lutas à beira de muitas gerações de tábuas de engomar contra esses lençóis especiais e as suas rugas infinitas, forças vivas, eu que a seguir corria a metê-los na gaveta para esquecer depressa a derrota, sou capaz de sentir agora uma espécie de alegria que me levou às pazes com a tábua de engomar em vigor. E isto convence-me facilmente a passeios em lojas de artigos para o lar em pleno território holandês, depois do que retomamos a emissão suspensa no parágrafo anterior e seguimos para o grande final.

Isto, precisamente. Relíquias lusas a encimar escaparates que se vêem já a seguir, não saia do seu lugar, enquanto passam duas nativas por mim, senhoras que aparentam muito uso destas coisas e eu oiço-as comentar em concordância absoluta: as cerâmicas portuguesas são lindas.




(foi vontade de variar dos gregos, se não fizer diferença)  

7 comentários:

  1. E as mulheres também, Susana, tornam a vista alegre, como este texto tão bem escrito.
    Um beijinho

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    1. Ah, Teresa... obrigada. :-)
      Na Holanda vende-se muito cerâmica da nossa, desta e doutras marcas, estou sempre a encontrar.
      Outro beijinho.

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  2. Permita-me juntar a minha voz (que anda por aí à solta como a sua, querida Susaninha) à das nativas daí. Não há vista mais alegre que a nossa!

    Um beijinho

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    1. Querida Miss Smile, a sua voz solta-se muito bem e voa bem alto. :-)
      Sim, alegria é connosco, mas lá nos Países Baixos também a há.
      Outro.

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  3. Susana,
    Gostei muito dessa viagem aparentemente doméstica até chegares às prateleiras da "Vista Alegre". É muito reconfortante ver lá fora o nosso património reconhecido, não é? Porque será que não o valorizamos na mesma medida? A história da galinha da vizinha...
    Sabes que a CMG, uma fábrica de cerâmica de Torres Novas, produz maioritariamente para o mercado estrangeiro?
    Beijos.

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    1. Vou procurar os produtos da CMG lá naquelas bandas, aposto que encontro. :-)
      E de repente, no rádio, passarem Cristina Branco? O que eles gostam de fado!
      Obrigada pelas tuas palavras. (gosto mais de te ter deste lado, o g+ é uma confusão...)
      Beijos de volta.

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    2. Mas olha que eu continuo do outro lado e ponho lá coisas que podes ver;)))

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