Depois de insistentes investidas pelo supermercado afora ou
adentro (já tinha dito) na busca de encontrar o siroop,
uma espécie de xarope com que se besunta as panquecas e disso se pode fazer um
jantar se se quiser, dou finalmente com ele junto do açúcar e complementos para bolos. Como só faltava recolher este produto da lista que levo, daí me encaminho para a caixa. Nesta pacata e pequena
cidade holandesa a chegar-se à fronteira alemã, o novo coronavírus se entrou
ninguém deu por ele. As prateleiras que visitei no encalço do siroop e não só, o siroop destinado ao meu próprio chá a ver se lhe tira o desenxabido, continuam como se nada fosse, cheias, abastecidas. Por exemplo, as etiquetas das
promoções em vigor ostentam a sua existência bastante habitual. Ora chegando a
minha vez na caixa, onde já estamos, introduzo o cartão multibanco na ranhura do terminal de pagamento. Mas o cartão, destoando do contexto costumeiro em que nos inserimos até aqui, pagar não pagou. Os meus olhos pousados nas familiares palavras que um bitezito inteligente dele faz ativar na língua portuguesa e se exibem no visor, “AGUARDE POR
FAVOR” aguardam obedientes o desfecho e o desfecho não vem. Diz a moça da caixa que o meu cartão se calhar não dá naquela máquina,
vendo agora que ele tem uma cor estrangeira. Eu afiancei que sim, o cartão funciona
sempre, que ainda há dez minutos tinha feito disso uma demonstração em outra
loja perto de si. Ela chamou pelo interfone a gerente ou alguém desse tipo. A gerente veio num segundo (detalhe que impressiona qualquer pessoa, eu acho) e olhou para o meu cartão de cor estrangeira
tendo de seguida levantado as mesmas suspeitas que a moça da caixa. Ah, esse cartão não sei quê. Eu repito
no meu esburacado holandês que o cartão tem sido competente em toda a gama de caixas multibanco destas bandas. A gerente foi-se
embora para outro lado dizendo coisas profissionais que eu não entendi.
A moça da caixa também falou e depois chamou nova gerente pelo interfone. A
nova gerente demorou outro segundo a aparecer (incrível, também achei).
Entretanto, eu olho as pessoas na fila atrás de mim, que cresce. A nova gerente
torna a pôr em causa o cartão e o seu aspeto estrangeiro. Eu – tive oportunidade de
melhorar o esburacado discurso – repeti, tal tal, defendendo o cartão. Esta segunda
gerente quis agora ler a mensagem no visor do terminal multibanco, ainda em
modo de encravado. “AGUARDE POR FAVOR”. Então tem um recuo de cabeça, um levantar
de sobrancelhas e um esgar de lábios. Ah, está noutra língua!, exclama. Está
na minha língua, digo. Ao menos haja aqui qualquer coisa do meu lado, e este terminalzinho
de pagamento, c’amooor, só lhe falta começar a tratar o meu cartão por tu! Mas isto eu não digo, trata-se de um pensamento (na caixa). Pago pois com dinheiro, enquanto as pessoas na fila atrás de mim são despachadas para outras caixas.
Depois está-se mesmo a ver que ao caminhar para o estacionamento, encaixar a mala de compras na bicicleta e pedalar para casa, levo os pensamentos já todos fora da caixa. É espetacular.
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